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domingo, 28 de fevereiro de 2010

Mudança

Um pouco atrasado né, mas dá tempo. Um pouco atrás. Mais pra esquerda. Isso! um pouco mais. Agora devagar. Cuidado, nivelem aí esse lado. Vai estragar...não! Nossa, foi por pouco. Ao contrário. Cuidado para não abrir. Isso! Um suco pro rapaz. Difícil né? Pressione o botão. Esquerda, esquerda isso... Segue o gráfico. Mais uma peça. Encaixou? É esse lado? Agora vire. Está firme? Apoie aqui. Despreze a caixa. Adicione o adesivo. Parafuse. Martele. Conecte. Teste. Desça. Falta pouco.... ahh, o chão!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Cantora Barata


As baratas são os seres mais insignificantes do planeta. Elas sujam seu lar, infestam seu armário e causam tremendo pavor a todas as mulheres e afeminados.

_ E agora , eu tenho a honra de apresentar a vocês, Judith Perruche .

Os aplausos seguiram de total espanto. Ela estava subindo ao palco. Uma barata cascuda, de seis fartos e postura discutível.

Judith pediu o silêncio da platéia e começou a entoar uma canção desconhecida. O público foi tomado pela música seguindo as patas daquele inseto. As quatro patas que estavam livres do chão se arranjavam no ar em um balé alucinante, seguindo de forma teatral o que a barata cantava.

_Bravo!!! Bravo!!! – gritava a platéia entusiasmada com o inseto cantor.

Delicadamente, Judith agradece a multidão com gestos graciosos, e segue entoando outra canção.

Na outra noite Judith Perruche era a artista mais requisitada de todos os bares e cafés da França. Só se falava na interpretação de Perruche e sua graciosidade no palco.

_ Sou uma cantora barata - ela dizia no palco- Só preciso de um acordeom para seguir minha voz.

Seu pagamento era com estrume fresco e suco de fezes.

Durante anos Judith lutou pelos direitos das baratas, foi porta voz do grupo dos pró-inseticidas e militante das causas das anciãs cascudas. Ganhou o Lobel Francês sendo honrosamente aplaudida por todas as classes de insetos.

Morreu pisoteada por pé humanóide. Em sua ultima turnê, Perruche dá seu último adeus ao mundo entoando o “Hino as Baratas”

Uma barata cantora, jamais uma barata fora tão longe em toda a história.

Judith Perruche, a maior barata de todos os tempos.


terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Amores distantes



_ Você jura me amar pra sempre?
_ Julesca, você é a mulher da minha vida, eu te amo!
_ Você promete me esperar?
_ Prometo, eu espero 10 anos se for preciso.
...

Meu amor foi embora.


10 anos depois.


_ Sabe, eu tenho que confessar e ser sincero. Hoje eu sinto uma leve fraqueza por você.
_ Ah é mesmo? Não me impressiona.
_ Mas é uma fraqueza muito ínfima. Hoje vejo que o tempo passou e sua barriga cresceu, você está descuidada, é isso. Claro que não perdeu a beleza brejeira de sempre , mas você não é a mesma de antes.
_ E como era antes?
_ Antes eu me deliciava em ver sua silhueta no escuro, agora quero que ela não apareça na penumbra. Seu sorriso quadrado e perfeito se tornou um amarelo-ouro e seu perfume barato contrasta com o cheiro de cigarro que sua boca aromatiza. Sinceramente Julesca, eu achei que íamos terminar juntos, uma pena você ter me deixado e o tempo ter passado.
...
_ Eu nunca ouvi uma coisa tão sincera em toda a minha vida.
_ A pizza chegou, vamos comer!
...

_ Julesca, JULESCA!


Meu amor me deixou mais uma vez.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Da série: Tostão da minha voz

Porque fazer rock inteligente não é pra qualquer um!




(Rocks- Caetano Veloso)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Homem Psicótico

Entrou na rua como se fosse Jesus Cristo. Fugiu dos olhares comedidos e das desaprovações dos transeuntes, sabia muito bem o que pensavam a respeito de sua pessoa. Era tanto pavor em olhar nos olhos daquelas pessoas, que ele evitava ao máximo. Por conta disso desviava o olhar para os letreiros das lojas, “temos calçados de todas as marcas”, “super oferta”,”compramos e vendemos ouro”- ele sabia que estavam roubando o ouro dele.

Tinha repulsa de qualquer loja ou estabelecimento, de como a caixa do supermercado sabia que o seu salgado favorito era o Doritos e de que era compulsivo por Fanta Uva, de como o balconista da farmácia sabia que ele tinha herpes, de como o barbeiro já escolhia seu corte de cabelo e de tudo o que os olhares de desaprovação não diziam. Cada riso , cada abraço que fugia de sua vista era sinal de rancor e tristeza.

- Porque não sou amado? sou o mais sábio de todos os tempos, e vocês só querem me sugar, querem roubar o meu dinheiro, tirar o meu sangue e me vender para a cura de todo mal.

Por fim, atravessou a rua pra evitar a igreja. “Não estou a fim de ser crucificado novamente”.