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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Todos os tipos de cabelo

Domingo. Dia de ficar em casa e assistir TV. A chatice da modernidade dos comerciais...
"...mas não aqui queridos, aqui esta terra será a mais explorada, dentre todas as terras que vocês já conheceram. A terra em que iremos explorar será repleta de cabelos. Muitos cabelos. Na verdade todos os tipos de cabelo! Vermelhos, verde-amarelos, de seda, de vênus, todos os tipos de cabelo! E vocês, queridos, têm a grande função de escolhê-los. Não porque estou aqui sentenciando esse desígnio, mas sim porque vocês precisarão tê-los, vocês escolherão os seus cabelos..."
Sim, era esse tipo de mídia que a nossa sociedade tem se interessando ultimamente.
Desligo a TV.
Eva para na minha frente e pega o delineador dentro de sua bolsa; eu a interrompo, fazendo com que ela borre toda a maquiagem e machuque o olho esquerdo.
“isso são horas de se maquiar?”
Ela se apressa. Pinta todo o rosto como quem pinta a cara antes de se apresentar em um show de rock. E como já era de se esperar, ela sai de casa sem me avisar, pela segunda vez.
O que Eva estaria fazendo? Sei que não estamos tendo boas noites de sexo, mas eu esperava que ela entendesse o que o médico tinha falado sobre crises conjugais e ficasse um tempo quieta, e de preferência, com as pernas fechadas.
Então eu decido segui-la.
Eva adentra um bar.
Meia hora depois e duas doses de pinga, eu vejo ela no palco, seminua, dançando para os palhaços daquela birosca. Pedi mais uma pinga e comecei a visualizar as fantasias de Eva. Ela estava linda, como uma criança, e aquele palco de luz vermelha, os assovios dos homens, o que Eva era afinal? Uma puta? Até que ponto nosso amor chegara? Pedi mais uma dose e um homem mal encarado sentou na minha mesa. Seu nome era Jango, ele falava de como a noite carioca estava acabada, que era dono de um salão de cabeleireiros. Tomamos algumas doses e ele começou a me contar uma história fantástica.
Jango era quase uma lenda, só não conseguiu se tornar efetivamente uma lenda porque perdeu seu salão numa aposta, desde então ele estava sendo empregado por um tal de Osório, seu ex namorado. O tempo passou e Osório perdeu a clientela, e o safado do Jango se apossou de tudo, tornou-se um dos maiores cabeleireiros da capital; Jango disse que jamais ensinou sua técnica - nem mesmo para Osório, e que somente uma tribo indígena de uma terra distante conhecia seus segredos.
Fiquei entretido com aquela história que até me esqueci de Eva por alguns instantes. Carinha esperto era aquele Jango, eu queria ser como ele e sair quebrando as cadeiras nas cabeças das pessoas, mas pedi mais uma pinga.
Jango falava sobre o cabelo e suas escolhas. “Escolher um cabelo exige paciência. Não é sempre que se escolhe um bom cabelo. Um bom cabelo pode ser esteticamente chamativo e resistente, seria melhor optar por essa escolha, mas você está a sua preferência, foi você quem escolheu o seu cabelo, independente do que os outros digam o cabelo é seu! Ou a falta dele, claro. Então porque querido amigo, porque esconder essa lustrosa careca, sendo que você intimamente pediu por isso?”
Tirei o meu boné e comecei a brigar com ele, acabávamos de nos conhecer e ele já estava falando da minha careca. Fui posto pra fora do bar com a ajuda de dois seguranças, mas consegui deixar o safado ‘mãos de tesoura’ com um olho roxo.
Sou um fodido mesmo. Descubro que minha mulher é uma puta e um viado ainda tira sarro da minha cara. Dia ruim.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Roteiro roto

Careca, digita-digita, pensa, olha para a tela, estala dedos, digita-digita, o barulho da máquina, os olhos para a tela, os óculos, a pele branca, o banco vermelho almofadado a girar pequenos graus, ecos na sala ao lado, distração e revolta, levanta e pensa, deixa a máquina, fecha a janela, senta, pesquisa, digita-digita, cansa, desliga o monitor, sai da sala, cumprimenta amigos de turma, segue a classe, senta, ouve, questiona, discorda, coloca sua idéia em pauta, aceita opiniões, a sua é posta em prova, ele exemplifica, apresenta, visualizam, aceitam, aplausos, silêncio, bancos vazios, retorna a sala, ao banco, ao computador, digita-digita, lê, apaga, pensa, levanta, vai até a cantina, conta moedas, pega o lanche, paga, senta, beberica, encontra um amigo, e mais outro, sentam, conversam, risos, exaltação de assuntos, futebol, notas, provas, colegas de trabalho, projetos para o futuro, baixa renda, mulheres nuas, cumprimentos, olhares, despedida, averigua as horas, um livro aberto, averigua as horas, um livro fechado, o ponto, o ônibus, cansaço, o ponto, a casa, a chave, a senhora, a bênção, a comida, os filhos, o cachorro, a esposa, a família.
Grisalha, roupas sujas, máquina de lavar, cores separadas, dia do branco, água quente, 'lavagem algodão', automação, sol, tempero, talos, pia, cozinha, carne a descongelar, preparo, fogão aceso, fervura, batata doce, tomate, carne descongelada, cebola, caldo, nata, netos, boa tarde, piadas, intrigas, correções a dedo, castigo, resignação, quartos separados, silêncio, pratos, anúncio, todos à mesa, oração, todos comem, agradecimentos, todos saem, silêncio, pratos sujos, pia, restos de comida, lixo, pratos limpos, apito, automação completa, roupas limpas, varal, sol, cansaço, o quarto, a cama, a benção, o descanso, a família.
Cabelo grande e sedoso, código de barras, produtos em oferta, cálculo desconto, recebe dinheiro, autentica notas, emite fiscais, troco, próximo cliente, emite fiscais, troco, próximo cliente, cartão recusado, guichê fechado, mesa especial, atendimento diferenciado, autorização da compra, guichê aberto, notas fiscais, filas cheias, averigua as horas, filas vazias, café, averigua as horas, fim do expediente, cansaço, sai do estabelecimento, carona, beijo de despedida, casa, mãe, os filhos, o marido, a mesa, a família.



segunda-feira, 27 de junho de 2011

Filosófica cadeira


Uma vez era de se esperar que ela me reprovasse. Diante de toda sala, eu, a chamar pelos colegas de turma e não ser atendido, o porquê do zero sentenciado por aquela boca impiedosa até hoje não se sabe, nem tampouco de suas consequencias. A prova estava mais fácil do que um livro aberto; e esculpindo as respostas estava eu, enquanto a inquiridora fuzilava nossas cabeças em seu vai- e-vem amedrontador, mas menos ameaçador, porque eu era um ator decorado naquela filosofia que ela tanto empregara no semestre. Sentia que como na questão um a prova era armadilha, mas não me afugento no caos da magnitude humana de quebrar nossa percepção.
Sim, era teatro total, transporte de sangue para o cérebro e antes que me deixasse ‘anóxio’ pude cumprir a tarefa sem ser pego por sua ilusão - a ilusão de quando minha inimiga estava sentada no escritório secreto , preparando o seu veneno e o pontuando – esta, por exemplo, valia um ponto.
Incrível é que os venenos mais potentes valem mais, ou incrível não é, pois isso é coisa da cabeça, às vezes é um buraco ou às vezes é só um escuro com um interruptor do lado e pronto: luz!, caminho livre para a próxima etapa.

Os testes são assim: melindrosos ao erro, sempre; lei natural ameaçadora. E não, e não creio que deveriam sê-los, mas quando estamos em uma fornalha com níveis, ficar perto do fogo pode ser acolhedor e perigoso, ficar longe é morte certa. Pondere sua cabeça para a umidade ou nada disso, esqueça , estou mesmo descontente com a forma de ensino; e sequer ela não nota, mas a minha careta está no lápis e nos garranchos que o sistema vai ter que decifrar. Depois eu mereço a guilhotina; eu e todos os alunos merecemos o inferno, e todo o sistema de regras gramaticais. A química é a química e pronto - para mim que sou otário - “ou eu?”- e fantoche das ressonâncias, do acerto, da próxima questão.

Sabe, na verdade não era isso o que podia ser feito. Acho que podia ser feito mais do que ela esperava, e assim o fiz, não porque deveria ter feito, mas por pura vontade de fazer o que podia ser feito. Esse fazer era poder e assim ela estaria pronta para a próxima resposta, mas naquela hora não, não era o momento certo de iluminação ou consciência, era embotamento e alerta; uma mulher presa numa torre de vidro que pensava ser feita do mais valioso cristal e que esquecera os sapatos de mais estima na festa, em sua sala de aula, enquanto o mais apropriado era fazer da vida uma grande limitação territorial acerca dos principais problemas dos filósofos modernos.

Zero. Foi mesmo o que ela disse. Zero e mais nada. Mas como pode ser um zero, como pode não valer um traço, uma idéia, mesmo que esta esteja errada? Se me explicar, te dou um ponto, ou um beijo pra quem for de beijo - mas pra ela não valia nada, uma pena, não pra ela! Um tijolo nas minhas costas e a minha decência de abaixar o ritmo; é que não estava lá e esse zero não foi pra mim, e sim pra todos os que defendiam aquela causa.

O que apeteceu lhe convinha e foi posto em prática. Quem sentenciou sofre, sofre secretamente ou gostaria de entender o que é sofrer. Quem sentenciou sabe o peso do valor sentenciado. Por isso mesmo merece ser vigia até o último instante.
Um cometa cai na terra.
O mundo explode.
Os dinossauros.
Os diamantes.


sexta-feira, 24 de junho de 2011

Existencial xis

Quem criou o criador?

Quem matou a criatura?

Como beber dessa água se essa água não é pura?

Qual escolha é a certa?

Qual a sua descoberta?

Qual a lógica que atira sua ira mais secreta?

Qual etapa foi quebrada?

O que falta no processo?

Quais as últimas palavras que acompanham esse verso?

Quem já sabe da resposta?

Qual a única lembrança?

Quem tem medo de perder uma aposta por vingança?

Como gasto o meu salário?

Qual o mal de todo o mundo?

Qual o tempo necessário para o último segundo?

Como conquistar amigos?

Como aproveitar o dia?

Qual a pena pro bandido que caiu numa armadilha?

Quem merece uma revista?

Como foi a sua infância?

O que sabe o cientista sobre a nova substancia?

Quem já leu o dicionário?

Como concluir promessas?

Onde encontro o atalho pra poder chegar depressa?

Quem equiparou o nível?

Quem insiste na vitória?

Qual o plano infalível para completar a história?

Como somar um instante?

Quem causou esse problema?

Qual o trecho iniciante que antecede um poema?

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Ceia de Domigo

Ceia de domigo

De carne vermelha

E pele dourada

Assim fomos feitos um pro outro

Na mesa você estava

Deslumbrante

Suculenta

Eu pude notar

A azeitona preta

Estava vencida

Mas valeu

Cada mordida

Eu fartei, lambi o beiço

Enchi a barriga

E agora tudo passa

De solidão e sobremesa

A braguilha aberta, a fala à mesa, a comida

Em decomposição

Decomposição

Nada mais a fazer

O prato limpo, a sala, o tempo , o tédio, a TV

E o jornal

A sessão da tarde se abrindo

E eu no quimo indigesto, entregue a uma ceia de domingo

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Ps: Se alguém lembrar do coelhinho da Páscoa, tudo bem :)

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Setembro

Lá vinha um, e novembro, mais uma, e novembro sempre por perto. Hoje já agora, antes tarde. Menos mal, minuciosamente firme, levanta e vai. De copo em copo e água e barro e filtro de chão. Cinzas no cigarro, bolhas de fumaça, uma em forma de coração e imagina – recebia o décimo terceiro antes. Ria e ria e roía unhas. Em paz, na espera, justamente por hora e o chá verde e morno, ia. Ouvia passos, pés estranhos, partindo o assoalho vizinho; como se andasse um mal educado pela casa. Crianças em suas traquinagens e a rua impedindo que o barulho que o atentava se manifestasse - meninos atinando meninas ao primeiro beijo, e o beijo. Não sabia onde estava ao certo, seria em seu quarto ou em sua cabeça, o que seria não sabia ao certo, por isso mesmo mantinha-se quieto, extasiado em um sonho. Não fez nenhum teste, apenas deixou que sua metade se manifestasse, gradativamente. Sem melodrama, apanhou os chinelos e sua arma mais secreta, aproximou-se da porta.

O som rompia no ambiente, mesclando o processo desarmônico da vizinhança - maldito cortiço em que vivemos – seus ouvidos rejeitavam a idéia de gostar, agia na mesma potência de receber visita com vassoura na porta. Queria gritar, mas desaprovava tal atitude, era como se inserisse na situação e não era isso o que queria. Silêncio era o que queria; silêncio e o que fosse creditado em sua conta. Era angular e pendia para o lado das queixas. Ficava por isso sua embarbação, o começo de uma revolta interna, explodia por dentro e sentia vergonha em sua falta de expressão ou notoriedade, talvez fosse descartável e sincero, ou duvidasse muito de sua importância.

Voltou pra casa em sua cefaléia diurna de parentes distantes, suas condições precárias e os alugueis. Ligou a TV e o bate-papo do sofá; aquela alegria que certamente era intangível, os sucos de melancia o atormentavam, e os de morango. Como se todo o dia fosse o mesmo, o relógio marcava seis horas. Todo esse ensaio pra que fosse outra preparação, era o que sempre reclamava, depois de ferver a panela com água e açúcar e servir o café. Brindava e sorria àquele sentimento de abraço gostoso de inverno, de ter tudo por um instante, o rei ocupava seu trono, em meio a tanta miséria e barulhos nocivos; e as doenças da manhã não lhe afligiam nesse pequeno instante, livre da chuva que agora se manifestava pelo vidro, e que limpava toda aquela gente simples que recolhia roupas limpas e encharcadas dos varais. Se olhasse tal situação era quando somente esquecia a janela aberta e o frio queria companhia, fora isso, pouco lhe importava, ou o era perceptível, pelo que diziam era bom moço, mesmo sendo aterrador qualquer deslizamento ou assassinato que urge afora, e ele praticamente seguro e inocente, em meio a sua visão televisiva de sofás e sucos desprezíveis.

Enquanto o pão apodrecia, os mosquitos colocavam ovos nas calhas, uma mulher em sua mente a fita-lo, o despia, era provocante e o chamava para a cama. Dizia ele que seria comportado e não faria barulho, preparava o bote, era a hora mais esperada do dia, quando ela se ajeitava e perturbava seu juízo, ralhando suas imperfeições, que no fundo, no fundo, ela adorava. Dizia de sua solidão e falta de calor humano, jogava verdades na lata de lixo enquanto se fartava de provocações. Era de tamanha teimosia que podia modificar seus modos, por pura insistência.

Como duas metades se pertenciam, e ele a imaginar, vivendo nessa lâmina cega, sem sentido e de fim incerto, e ele e ela, só ele era, o único que amava o bastante para dar bom dia aos pivetes e aos barulhos preciosos dos homens, quando e somente quando se encontrava catatônico de amor, em pleno mês de setembro.

domingo, 12 de junho de 2011

Visitas inesperadas


História com três personagens:
M- Marcos
P- Procópio
L- Lúcia

Cenário: Um quarto com um computador, uma cadeira e uma caixa.


Marcos, um jovem rapaz, estava inquieto andando pelo quarto; até que ele ouve um barulho de alerta no computador e senta-se para averiguar. Ele digita por alguns segundos , enquanto expressa felicidade.

Procópio, seu irmão mais velho entra no quarto sem bater.

P- Vai ficar sentado até quando? (sarcastico)
M- (gargalhando)
P- (cutucando Marcos) Marcos?
M- (furioso) O que é?
P- Preciso dar uma olhada em uns e-mails.
M- (gargalhando)
P- (cutuca marcos)
M- (irritado) ME DEIXA!
P- Do que está rindo, posso saber?
M- (vira a tela do computador pro lado de Procópio)
P- ( espia e dá uma longa gargalhada)
M- (triste) Está vendo? São todas iguais!
P-(para de gargalhar e diz) não fique triste,irmãozinho, ela não sabe o que está perdendo.
M- ( irritado, esfregando as mãos na cabeça) Ela me paga, ela me paga ,ela me paga...
P- (consolando Marcos) Não tome decisões nesse estado, meu caro; ela virá e assim vocês se acertam.
M- (se levanta, discutindo) Ela não é uma mulher, é uma criança mimada, todas elas, sugadoras , quando menos se espera acontece um bote, víboras, cascavéis que agem pelas costas, isto é o que são: bonecas.

Nesse momento surge da caixa Lúcia:

L- Posso sair?
(Os dois ficam calados)
L- (saindo, meiga e olhando para Marcos) Oi meu thuthurucozinho!
M- (vira a cara)
L- Te trouxe um bombom, você quer?
P- Eu quero! ( toma da mão de Lúcia)
L- (cínica) Você... você continua o mesmo. E você, (se aproximando de Marcos), você mudou, mudou tanto que já nem lembro de quando foi a última vez que me elogiou.
M- (furioso) Não quero papo contigo!
L- (sarcástica) Ah é? não quer papo comigo?! Sou eu e esse seu computador, eu ele, que mais te damos atenção, lembra da última mensagem que eu te mandei?
M- (pegando um papel do bolso e lendo em voz alta, mecanicamente) "Oi amor, como vai? minha noite está fria sem você, saudades"
L- (falando com doçura)Saudades...
M- (não compreendendo)Isso foi há três dias! TRÊS DIAS! Fora isso você não me escreveu mais nada.
P- (interrompendo) Pare de ser egoísta irmãozinho, ela ainda te quer?
M-(se virando para Lúcia) Você ainda me quer?
L- (sorrindo) Eu ainda te quero!
P- (interrompendo) Mas eu acho que ela merece um castigo.
M- (assustada) Um castigo?
P-(se justificando) Um castigo. Um dano ou seja lá o que for, pra provar esse amor, esse amor-mensagem de três dias, cibernético, e frio...
L- (discutindo)Quem é você para falar do meu amor; você é um intruso nessa história, que não tem nada a ver comigo e meu thucorucozinho!
M- (virando-se para Procópio, indagativo) Que tipo de castigo estamos falando?
L- (sentencioso, em coro)
'A forca para os assassinos,
as pedras para os adúlteros,
para as gralhas a rouquidão,
nos céus de outubro,
e para esta que o procura,
somente por estima,
eu proponho que ela passe,
De boneca à menina'
L- (asssutada) você só pode estar ficando maluco, meu thucoruco jamais faria tamanha selvageria !
M- (anda pelo cenário por alguns instantes e intui conclusivo) Acho justo.
P- (concordando) Justíssimo!
L- (confusa) Amor, porquê?
M- (explicativo, acariciando Lúcia) Eu sei que parece estranho, mas é inverno, e é tempo de você mudar, fortalecer o nosso sentimento, e só dessa maneira, meu amor, só assim, você provaria o que me disse; só assim você seria diferente de todas as outras entende?
P- (com ironia) das outras que são outras.
L- (se desvencilhando de Marcos) Não estou te entendendo ... Ah, por favor garotos, qual foi a última prova de amor que vocês me fizeram?
M- Te esperar todos esses dias...
L- (completando Marcos, em tom de discussão) Você demorou sair da caixa...
M- Aguardar o momento certo...
P- E você apareceu!
L- (emburrada apontando o dedo pra Procópio) Você não conta. Não faz parte dessa história, já disse.
P- Se diz, não me intrometo (vira-se e fica de costas)
L- (curiosa, se virando para Marcos) Você não procurou ninguém?
M- (debochativo)Você não acredita em mim se eu disser que sim.

L- (deduzindo)É...você não é do tipo que vai a festas.
P- (vira-se pra frente e diz) Não contigo.
M- Não começa.
L-(alegre) Estou com sono!

Nesse momento Procópio e Marcos dão corda em Lúcia,que começa a andar pelo cenário feito uma boneca, até que Lúcia retorna devagar para a caixa.

M- Boa menina!

Surge novamente um barulho de alerta no computador.

P- (feliz)Agora é minha vez!

Procópio senta-se na cadeira em frente ao computador, e fica digitando e gargalhando.
M- Vai ficar sentado até quando? (sarcastico)
P- (gargalhando)
M- (cutucando Procópio) Procópio?
P- (furioso) O que é?
M- Preciso dar uma olhada em uns e-mails.
P- (gargalhando)
M- (cutuca Procópio)
P- (irritado) ME DEIXA!
M- Do que está rindo, posso saber?
P- (vira a tela do computador pro lado de Marcos)
M- ( espia e dá uma longa gargalhada)
P- (feliz) Está vendo? São todas iguais!
M- (feliz) Ainda bem!

As luzes lentamente se apagam e a cortina fecha.


quinta-feira, 9 de junho de 2011

Dígrafos

Acha? Já eu tenho certeza das suas maluquices; as minhas? Estão nos seus olhos, nas suas dúvidas banais, do quanto éramos diferentes, almas dispostas em choque, pilotos inconscientes na contramão, fogos de artifício falhos e errantes, meninos famintos jogando bafo na esquina do crack, filhotes amestrados aprendendo a sucumbir tarefas, estrangeiros estranhos em lugares distantes, nascidos para o aplauso da massa crítica, aceitando cinicamente o teatro imposto pelo riso, pelo gosto do gesto, da hipocrisia documental do homem, do crivo social, da prática molde partidária, das preces urgentes, dos que gritam de dor e não são ouvidos, esgotados pela velhice do sistema de saúde, dos impostores que ganham dinheiro nos cassinos, dos impostos controlados pela empresa, da mídia que pintou a sua cara morta, maliciosa e fútil, da beleza cosmética dos estandartes, digna de lavagem e tomates podres, dos esqueletos padronizados pelo sistema estético, implantados em comerciais, em vitrines de loja, nos holofotes , nos palcos e nas platéias, na precariedade dos traços à lápis, sem idéia fixa, primitivos e amorfos, mal publicados, carcomidos pelo tempo, pela beleza do primeiro encontro na colheita amarga e sertaneja, pela falta de chuva, de esgoto, pela sede de água doce, pelos suores das praias, dos atos sexuais e pueris esfriando as carnes e desinibindo a banda, pela classe que cantava errado esquecida no jingle previsível e chato, de caráter ressonante e dígrafo.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Os melhores de 3030

‘De pé’, uma sátira de Zertst Magnkakt ,curta pós-moderno que procura identificar as principais diferenças e relevâncias de uma determinada população que possuía pernas para a locomoção na Terra.

“Agora retome sua pose algoz”, filme de Bersfucone , sátira diferencia características do homem fiel em contradição ao senso feminista.

“Seu pé fétido sabe contemplar o chão”, O cineasta Ton Sculack mais uma vez surpreende tecnoespectadores ao realizar a terceira punção de zirgomônio, composto capaz de destruir nosso planeta.

“Óh, poderoso chão, nutra-me com sua força”, Gaia III, a deusa afirma este ser um de seus melhores musicais.

‘Por afirmares, contemplado’ , Kistron Lummer, documentário sobre o multimilionário que criou a tecnologia que permitia a desconexão da realidade.

‘Poluirei suas benditas ventosas’, Mina Prim volta com nova peça infantil em que prega a imortalidade.

‘Até que encontre o senhor salário’, documentário de Naft flut’h, afirma sobre o choque capitalista em relação às mudanças ocorridas pós acordo de entrega salarial, com registros factuais.

‘O melhor militante das praças’, os gêmeos Agkof e Mifnat Rrafiif apresentam novo sistema para quebra interpessoal , filmado em playourself , restrito para menores.

‘‘Aquele mesmo’, ‘dos anjos’’, Jia Kia, cineasta, apresenta sua obra-prima desvendando os mistérios das imagens celestes.

“Noutra margem visita a dama”, Tezcatlipoca, reprise do único romance documental asteca.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

No que você pensa segundos antes de sair numa foto?

Eu não posso me mexer porque qualquer movimento que eu possa fazer vai ativar o sensor que está na caixinha de fósforo da bolsa da minha mãe, portanto quando ela for acender o fósforo para queimar o cadáver do meu pai, um sistema eletrônico sensível ao fósforo criado por cientistas da NASA irá detonar a caixinha de fósforo matando minha mãe, que possui sensores anti-bombas localizados no ouvido interno, e estes, uma vez acionados, enviarão uma mensagem-senha para ativar o botão de autodestruição deste laboratório, fazendo com que reste pouco tempo para sairmos vivos daqui.