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sábado, 25 de setembro de 2010

Pedagógico

Ofereceu por educação, e por educação aceitei. A batata estava ótima, por educação, joguei a embalagem no lixo. O mendigo agarrou os restos de salgado que deixei, e por educação, agradeceu a Deus. Como sou educado, dei alguns trocados para que ele comprasse o que quisesse, fazendo o pobre rapaz sorrir um obrigado.

Enquanto isso, do outro lado da rua, garotos assaltavam a Educadora de creche. O policial advertiu os garotos, dizendo educadamente que eles eram bandidos. Instantaneamente, os moleques tentaram fugir, mas como possuíam pernas educadas foram abruptamente capturados pelo policial, educado a correr ligeiro. Foram então escoltados até seus pais, os educadores do lar, que por educação, deram uma boa surra como castigo adequado. Depois de uma semana sem vídeo-game, os garotos pediram desculpas educadas a Educadora, e juraram ao policial obediência a lei. Receberam o beijo de aval dos pais e foram brincar educadamente com seus jogos de violência.

O ambiente vil da favela fez com que o policial se distanciasse de casa. Uma chamada anônima, totalmente deselegante, foi um gesto importante para o policial apreender o traficante com o maior educandário de assassinos da cidade. Enaltecido, o policial recebe prêmio pelo grande feito, além de ser promovido para educar a nova patrulha inexperiente. O bandido terá direito à prisão executiva, devido a conter curso superior completo.

O sino bateu. A Educadora fumava educadamente na hora do recreio, longe dos seus estudantes, que em sinal de educação se posicionavam em fila para receber a merenda. Satisfeitos, os alunos deixavam educadamente os pratos sujos para que as lavadeiras fizessem o seu serviço. As crianças aprendiam brincadeiras com as estagiárias não-remuneradas, que foram orientadas a tratar com educação cada infante daquela rica instituição. De volta à sala, a Educadora ensinava com maestria, mostrando toda a excelência em educação que conquistou durante sua faculdade de Pedagogia.

sábado, 18 de setembro de 2010

Arrotos elegantes: "Plantão"


" Esse topete Tander Kate
blusa de onça perigosa
faz sucesso, é deleite
aproveite enquanto é moda
tudo moda, tudo muda, tudo moda
Marionete de beleza
esteriótipo de sobra
sombreiro na cuca
estampa maluca
prazer, senhora moda"


_Boa noite “alfaiateiros” de plantão. O programa de hoje será escultural!
Vamos aprender a perder peso com a renomada nutricionista e modelo Edca Fibra. Joaquim Couro irá demonstrar novas técnicas para a obtenção de seda fina a partir de trapos, vale a pena ficar ligadinho aqui, a matéria está um “lu-xo”. E agora, fique com o desfile de unhas comestíveis do inoxidável cozinheiro e estilista Pedro Pinça:

(aplausos entusiasmados)

Mulheres exuberantes exibiam unhas de vários sabores e estilos, a medida que Pinça explanava a importância dos alimentos queratinizados. Moças de unhas doces e salgadas, mostravam de forma insistente o novo esmalte nutricional, chupavam os dedos e lambiam os beiços como planejado. Fêmeas insinuantes que fizeram o ibope do programa dobrar, ficando “Tander Kate” praticamente empatada com o programa “Canto Animal” da rede Ωζ-ρ.

(um aperto de botão)
:


(aplausos)
_E esse foi o canto de Geraldo, a gralha mais famosa da América Latina.
Engasgado, o pobre animal sai ultrajado com sua participação naquele canal de televisão. “Puseram-me um loro como maestro. Reclamarei com o sindicato das aves, estão de palhaçada com a minha espécie”- Foi o que grasnou o pássaro no camarim aos dirigentes da emissora.

Interrompemos nossa programação para o pronunciamento do excelentíssimo senhor Iluminado Lampião da Luz:

Não, eu não enlouqueci, ainda. Isto é apenas uma brincadeira, eu jam...

(os telespectadores ficam atentos, mas nem todos notam que em meio a tantos “blablás” surge, em uma fração mínima de segundo, imponente, a figura arrebatadora de Aninha, em ritual de sacrifício, [Subliminar? Não, não mesmo, recortei a pedido da própria, que quer fazer sucesso de novo] ficando à margem do anonimato)

...Queria agradecer a todos que me prestigiam. Ao querido Saulo Taveira do espaço "Partitura", que declamou de forma brilhante alguns versos simples que escrevi, para quem quiser conferir é só clicar: http://minhavozmeucaminho.blogspot.com/2010/09/cotidiano.html .
Obrigado também a você que me visi...

(Bater de palmas)

_Não está escutando eu te chamar menino, o almoço está pronto,você vai perder o horário do colégio.
_Calma mãe, o programa já está terminando.
_ Vê se não vai demorar nessa besteira, seu preguiçoso.

... e que bláblábláblábláblá. Fique agora com a programação normal.

"Arrotos elegantes, há 15 anos na sua Tv, arrotando em você"

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Olhar Digital

Bom, foi vasculhando o PC da minha irmã que eu encontrei um álbum de fotos do meu sobrinho Brendow. As fotos foram tiradas recentemente, durante um passeio a Buenos Aires. Achei situações interessantes, como um bom tio babão resolvi compartilhar algumas imagens.

Os adolescentes de hoje vivem na era da expansão das mídias, da experiência digital, a alavanca para os criativos. Compor ficou mais fácil, o imprescindível ingrediente é a originalidade, pelo menos é o que parece ser para sustentar o pilar artístico: o instinto. Creio que a arte de fotografar, mesmo sendo uma forma de registro, também pode ser atemporal, ir do trágico ao lúdico, conter e expressar uma gama de sentimentos, intrigar quem visualiza, assim como representar o olhar do fotógrafo dando espaço a critica de sua percepção.

Bom, sem mais delongas, as fotos:












Imagens de Brendow Goyaz

Boa semana pra todos!


sábado, 11 de setembro de 2010

Canto móvel

Contei com a ajuda do peito, um amigo e uma flor
Os raios apontam a seta da seiva que sou
Cantei por candura aproveito a cadência e o tombo
Sobre a poça escura reflete a lua sem sombra

Cantei por honra
Contei migalhas

Cresci combatente do lápis que perdeu a cor
Eu sou a semente impressa que não germinou
O leite que sorve pro leito do quarto crescente
A folha molhada, a cunha e o talho inocente

Verniz, madeira
Vadio, canteiro

Contei com a dura estrada que aqui me levou
Debaixo da escada, o móvel imóvel que sou
Cantei a paúra do passo desgosto de gente
Que vive tentando alcançar patamar diferente

Cupins e traças
Eu vim de graça

Cantei por honra
Contei migalhas
__________________________

Feito madeira velha
Oco
Duro por fora
Vazio por dentro...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Credo Urbano

Credo Urbano

Acordou com raiva
Tomou café gelado
Comeu pão dormido, saiu
Beijou o mendigo
Entrou no prédio
Quebrou o cartão
Abraçou a recepcionista
Subiu as escadas
Cumprimentou o lixeiro
Dizendo “bom dia”
Adentrou pelos fundos
Fez amor com a secretária
Redigiu cem petições
Tomou café amargo
Dobrou o expediente, saiu
Foi jantar no chinês
E comeu três pastéis
Dizendo “arigatô”, saiu
Ajudou velha cega
A atravessar a rua
E xingou o motoboy
Que cortava o sinal
Deu vexame no trânsito
Acabou com o olho roxo
Deu risada do mouco
Que ria da ocasião
Voltou ao prédio
Explicou à recepcionista
Toda sua situação
Na qual ela já sabia
Entregou novo cartão
Foi de elevador, saiu
Deu de cara com o patrão
Sorriu dizendo “oi”
E apresentou a petição
Conversou com os empregados
Explicou a conjuntura
Demitiu um “baderneiro”
Contratou o seu cunhado
Anotou, pois era jura
Bateu o cartão, saiu
Avistou moça chorando
Afagou por um minuto
Aconselhou ao psicólogo
Pegou ônibus lotado
Verificou sua bolsa
Desceu do veículo irritado
Esquecera seu charuto
Fumou maço de cigarros
Foi pro lar injuriado, cansou
Teve queda de pressão
Bebeu água e desmaiou
Despertou todo suado
Consultou data médica
Anotou na sua agenda
Confirmou o horário, dormiu.

"Sancionação"

Não é estado
Não é cidade
Não é estágio
Não é emprego
Não é utilidade
Não é infelicidade
Não é finalidade
Não é sossego
Não é miragem
Não é viagem
Não é começo
Não é oásis
Não é deserto
Não é anseio
Não é despeito
Não é suspeito
Não é direito
Não é juízo
Não é aviso
Não é sujeito
Não é pessoa
Não é pronome
Não é nome
Não é surpresa
Não veio à toa
Não é utópico
Não é biótico
Não é virótico
Não é metade
Não é ditame
Não é meiose
Não é inteiro
Não é matéria
Não é difame
Não é nascido
Não é vivo
Não é o eu
Não é você
Não é real
Apenas É.

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Repetitivo

Não sou Barroso
Não sou Aroldo
Não sou bacaca
Não sou ninguém
Nem responsável pelo nada

Nunca fui santo
“Te amo tanto”
Que vivo cego
Repulso

Não sou seu homem
Não senso algum
Não dito regra
Não taro idéia
Eu sou nenhum

Nunca aguardo
“Te quero tanto”
Que sempre espero
Regresso

Não sou modelo
Não sou bonito
Não sou sincero
Repito
Eu te odeio
Eu te odeio
Eu te odeio
...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Memora


O ar é importante
O mar é importante
Omo é importante?
O ramo é importante
A-mora é importante
O amor é importante
Mora em Roma?!
Memora

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Coágulo Imutável

Sol

Cidade

Saliva


Selva

Motosserra

Campo

Suor


Árvores podadas

Corpos mutilados

Lenha

Carne

Veia


Sangue

Seiva

Sangue

Sangue

Sol

Cidade

Saliva

Estanque


Coágulo imutável.