Marcadores

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O gênio e o escaravelho

Certa vez uma lâmpada apareceu na varanda de Dona Sinhá, onde Maria, a empregada, varria o chão. A lâmpada estava tão suja que podia ser confundida com um bloco de areia. Maria varria a varanda, recolhia toda a sujeira e a jogava pelo céu como costume. O prédio de D. Sinhá tinha 144 andares e Maria limpava a varanda da cobertura - recebia por isso um acréscimo no salário por correr risco físico.
A lâmpada estava intacta, por dentro tinha um brilho jamais visto por qualquer humano. O brilho corria dentro da lâmpada e alcançava uma fenda para o meio externo formando um pequeno feixe de luz perceptível aos olhos de um escaravelho.
Tut era um escaravelho comum que vivia na cobertura daquele edifício simplesmente pela presença de uma mesa de jantar. D. Sinhá mal sabia que aquela mesa era rica em seiva, alimento precioso para Tut.
Acomodou-se e construiu família, afinal onde comem um comem cem. A família de Tut era numerosa, mas isso não é um fato tão importante sendo que essa história não será percebida pelos familiares do escaravelho.
Tut acordou cedo a procura de comida, avistou uma luz poderosa que,de início, cegou seus 4 olhos. Foi-se aproximando daquela claridade angelical quando de repente foi arrastado pela vassoura. Tentou se levantar e ir de encontro a luz mas foi pisoteado pelo chinelo da empregada. Viu a luz enfim.
Bigade, seu quadragésimo quarto filho,felizmente não viu seu pai sendo morto, mas foi segurando uma espécie de bola de luz suprema que o rumo de sua história de inseto mudou. A bola se quebrou e à frente de Bigade e aos olhos de Maria apareceu um enorme gênio.
_ Quem ousa perturbar meu sono eterno?
Maria ficou assustada com tamanha aparição que deu um pulo da varanda e caiu na cama, desmaiou.
_ Eu, respondeu Bigade... eu a sua luz e recebi o chamado. O que tens pra me dizer?
_ És escaravelho de sorte. Por anos não atendo pedidos de seres tão ínfimos,meus últimos 3 pedidos foram para humanos cheios de ganância e luxúria. O que você, inseto,jamais poderia entender. Mas adianto que você tem 3 desejos e eu posso realizá-los.
_ Bom, sabe como é viver em meio a família numerosa. Bom eu quero uma mesa de seiva só pra mim e minha Judith, assim podemos construir nosso império longe dos meus irmãos sugadores de seiva e de Tut.
_ Tut está morto, reformule seu pedido.
_ Meu pai morreu?
_ Foi pisoteado minutos antes de você me descobrir. A mesma luz que te abriu as portas matou seu pai. Já passei por mãos de pessoas que quiseram a morte de outras e sei quantos seres já se mataram para tentar meus desejos. Sou o realizador dos mais profundos desejos , faça seu pedido e serás concedido!
_Se você causa tantos problemas quero que você volte de onde veio.
_Desejo atendido. E o gênio voltou para a lâmpada.
Maria acordou assustada,pensou que tivesse visto um mostro mas percebeu que era sua imaginação pregando uma peça. Varreu a varanda, atirando a lâmpada e Bigade pelo edifício.
Bigade agiu por instinto e colocou suas asas para voo. Já a lâmpada foi estilhaçada e o gênio foi liberto.
O ex-gênio olhou para o céu e agradeceu aos deuses supremos pelo desejo. Num gesto sublime um enorme escaravelho de crosta preta pousou em sua mão. Assustado o homem matou o inseto, lavou as mãos nas vestes e caminhou pela avenida até sumir em outra esquina.