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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O som do vento

Mariana saiu correndo na chuva. Era a hora perfeita, momento clichê para sair de vista. Já não suportava mais a falta de sensibilidade de seu amante. Estava desolada e seu choro ácido se equilibrava com as gotas alcalinas da tempestade. Suas roupas molhadas já não apresentavam mais o perfume de Pedro. Ela sabia que seria a última vez que se enxarcava por ele. Por fim se sentou em um lugar abrigado da chuva. Avistou um rapaz sozinho com o seu violão que entoava uma canção desconhecida:


(Independente de tudo

De ter jogado a chave fora

De ter esquecido o número do meu prédio e telefone

Das palavras mal ditas e dos bilhetes nunca escritos

Por falar nisso só houveram frases feitas

Independente disso

Das canções que se casavam em dueto

Das drogas e preces de domingo

Da cumplicidade, desde a troca de parceiros

Dos interesses ilusórios pelo meu corpo

Do nó nas correntes e laços desfeitos

Eu estou feliz

Tenho a chave reserva do meu coração

Pois o dia também nasceu pra mim

E o sol há de secar minhas lágrimas

Vento de mágoas

Voe para longe )


O Vento secava o seu vestido enquanto ela sorria em agradecimento ao cancioneiro.

Desde então Mariana atravessara um novo muro de concreto. E passou a admirar as maiores tempestades.

Assim foi até o fim de seus dias.