Mariana saiu correndo na chuva. Era a hora perfeita, momento clichê para sair de vista. Já não suportava mais a falta de sensibilidade de seu amante. Estava desolada e seu choro ácido se equilibrava com as gotas alcalinas da tempestade. Suas roupas molhadas já não apresentavam mais o perfume de Pedro. Ela sabia que seria a última vez que se enxarcava por ele. Por fim se sentou em um lugar abrigado da chuva. Avistou um rapaz sozinho com o seu violão que entoava uma canção desconhecida:
(Independente de tudo
De ter jogado a chave fora
De ter esquecido o número do meu prédio e telefone
Das palavras mal ditas e dos bilhetes nunca escritos
Por falar nisso só houveram frases feitas
Independente disso
Das canções que se casavam em dueto
Das drogas e preces de domingo
Da cumplicidade, desde a troca de parceiros
Dos interesses ilusórios pelo meu corpo
Do nó nas correntes e laços desfeitos
Eu estou feliz
Tenho a chave reserva do meu coração
Pois o dia também nasceu pra mim
E o sol há de secar minhas lágrimas
Vento de mágoas
Voe para longe )
O Vento secava o seu vestido enquanto ela sorria em agradecimento ao cancioneiro.
Desde então Mariana atravessara um novo muro de concreto. E passou a admirar as maiores tempestades.
Assim foi até o fim de seus dias.