sábado, 23 de outubro de 2010
A Paixão segundo A.G
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Acertando os Ponteiros- Final
Passar a ver o mundo de outra forma não é difícil pra quem molda o compasso das horas durante o cotidiano. Moldar e modificar as ações é deixar que as situações se façam presentes e incertas; tão incertas como deixar os sentimentos mais nobres sobre o cuidados de terceiros .Talvez a vida seja um quebra cabeça, ou um brinquedo desmontável. Talvez os moldes para encaixar o tempo sejam a desculpa humana de querer o melhor quando somos os melhores, ou achamos ser. Nunca estamos satisfeitos, nunca somos bonitos ou interessantes, e quando somos, ignoramos até mesmo quando somos ouvidos. Ignoramos nosso poder de persuasão e de capacidade dinâmica avançada de sairmos da carne. Somos apenas uma imagem holográfica em um jogo, ficamos presos aos nossos capuzes e armaduras medievais, lutando com dragões e mocinhos brilhantes, lutando pelo direito de livre expressão e escolha, lutando contra nossos próprios medos e linhagens incertas. Pode o tempo ser incerto pra mim hoje que eu não me abalo. Estamos em tempos difíceis e um pingo de amor pelo próximo seria a atitude correta. O tempo que passou desde a última guerra não compensa o tempo que foi perdido pela sua destruição.
Até mesmo o sol indicava que aquela tarde era inóspita e devagar. Se eu me preocupasse muito com a prova não deixaria para estudar dentro do ônibus, no dia da prova. Parecia bobagem, mas senti um ar de dominador da situação. Não que o ambiente inóspito fizesse a ocasião de parecer-me esperto. Mas agimos as vezes por instinto, e os acertos são meras tentativas e adaptações. Aprendizado para acertar o mantra. Estudo, estudo, estudo... Consegue ver o teor da mantra? Pensar primeiro, dosar e rotular, e assim meus tiques não ficariam tão descabidos se adotássemos um mantra mais humano. Procure entender que as situações se repetem, por isso somos o fruto desse comportamento social. O desejo de entrar no ritmo que é a chave para o eixo_ em mim um desejo incontrolável de tentar nivelar um ponto exato de encontro entre o ônibus e a Van. O desejo de realizar um pensamento.
Naquela mesma hora,16h16, Renato parava o veículo com seu aceno de braços, deixando a oportunidade de quebra de rotina se apresentar naquele momento. Parei simultaneamente _ Não parei, apenas utilizei a única informação que poderia apresentar ao motorista em nível de vacúolo. Era como se a informação fosse "me expulse, estou cheio, preciso extravasar". O sinal foi dado e interpretado como a necessidade executável de quebrar a rotina , parei e saí do veículo.
Entrei dessa vez no ônibus universitário, com o sorriso de satisfação por ter sido uma coincidência métrica da vida: Coincidências são meros acasos, dentro de tantos acasos que se fazem durante os acertos de cada ponteiro do relógio.
Aqui são 00:59. Boa noite.
sábado, 9 de outubro de 2010
Acertando os ponteiros
sábado, 2 de outubro de 2010
A flor desabrochou a noite
Um bar danceteria carioca e o fim de semana esperado. A confirmação de que ainda estou vivo e que possuo lábia. O “sim” de uma garota. O convite aceito. O amigo “vela”, porém o necessário para uma boa conversa. Um amistoso diria, sem mais idéias sobre futebol. Um amistoso social.
O “chop” quente e o batom vermelho da caça, sempre cheios. Retoques e doses de brilho. A linguagem dissimulada com a presença do perfume feminino, perfume caro e intenso. A mulher enfeitava a mesa. Era uma mulher cravejada de sonhos onerosos, esperta e perigosa, com a língua afiada. Capaz de retirar boa parte da conta bancária do sujeito desavisado em um só dia. Uma sereia. E eu hipnotizado, a sua presa.
A vela, que mais parecia um castor, estava armando uma casa, utilizando-se de troncos roubados na represa que se fez o diálogo. Meu diálogo ingênuo e pobre era descartado ou incrementado, dando vantagem ao ouvinte vela, agora ativo einterlocutor e aceso, alias, em rubras chamas.
Já não sabia mais o meu papel? Chamei quem? Se ela, a caça, era um peixe e tanto. Eu não seria um caçador? Minhas habilidades estavam comprometidas naquele ambiente hostil: Pessoas conversando, tudo tão real e ao acaso. Nada combinado. A não ser as músicas repetidas de sempre. Fora isso, imperava as idéias malucas de Darwin, o mais forte sobrevive, o mais forte janta mais tarde. Ah, se eu fosse o peixe, um tubarão denteado. Só assim seria mais fiel ao que penso: todos ali, sardinhas expostas no mercado. Crias suculentas à mostra, em posição de festa e socialização. Troféus à deriva.
Contratos sexuais, novos alcoólicos, novos casais...e eu ali. O antigo, o quadrado do triângulo amoroso. Seria até possível caber o certificado de negação ao óbvio, seria admirável da minha parte achar que o correto era o improvável: de que eu sairia ganhando. E quando eu merecera a vitória? Quando passei a ser o escolhido? Vai ver era um sintoma pré-psicótico. Sempre fui o pré em tudo. Previsível predestinado a ultima prece.
Levantei sem mais palavras, sem discursos e sem ações, emudecido. Vou-me embora frio, como quem esquecera o agasalho em casa. Pude ouvir a última música, a música pobre e infeliz, dentre todas as músicas repetidas que tocaram na minha cabeça, música de cabaré. Eu estava num cabaré.
"Eu tô calmo
Bem a pampa
Desconta o álcool
Da minha conta
Ela não quer ir comigo
Ela quer aquele amigo
Que não é mais meu
Danem-se os dois
Então saio, bolso cheio
Miro na preta
Babo no seio
Desce o salto
Tô com dinheiro
Abriu-se a flor
À meia luz
E cheiro costumeiro
Abriu-se a flor
À meia luz e cheiro
Noite feliz...( pra mim)
Pra mim você e seu parceiro
A barracuda e o castor
Não sabem como é ser feliz
Dormi do lado de uma flor"
Cumpri a música e senti um gosto de primavera no outro dia.