Um bar danceteria carioca e o fim de semana esperado. A confirmação de que ainda estou vivo e que possuo lábia. O “sim” de uma garota. O convite aceito. O amigo “vela”, porém o necessário para uma boa conversa. Um amistoso diria, sem mais idéias sobre futebol. Um amistoso social.
O “chop” quente e o batom vermelho da caça, sempre cheios. Retoques e doses de brilho. A linguagem dissimulada com a presença do perfume feminino, perfume caro e intenso. A mulher enfeitava a mesa. Era uma mulher cravejada de sonhos onerosos, esperta e perigosa, com a língua afiada. Capaz de retirar boa parte da conta bancária do sujeito desavisado em um só dia. Uma sereia. E eu hipnotizado, a sua presa.
A vela, que mais parecia um castor, estava armando uma casa, utilizando-se de troncos roubados na represa que se fez o diálogo. Meu diálogo ingênuo e pobre era descartado ou incrementado, dando vantagem ao ouvinte vela, agora ativo einterlocutor e aceso, alias, em rubras chamas.
Já não sabia mais o meu papel? Chamei quem? Se ela, a caça, era um peixe e tanto. Eu não seria um caçador? Minhas habilidades estavam comprometidas naquele ambiente hostil: Pessoas conversando, tudo tão real e ao acaso. Nada combinado. A não ser as músicas repetidas de sempre. Fora isso, imperava as idéias malucas de Darwin, o mais forte sobrevive, o mais forte janta mais tarde. Ah, se eu fosse o peixe, um tubarão denteado. Só assim seria mais fiel ao que penso: todos ali, sardinhas expostas no mercado. Crias suculentas à mostra, em posição de festa e socialização. Troféus à deriva.
Contratos sexuais, novos alcoólicos, novos casais...e eu ali. O antigo, o quadrado do triângulo amoroso. Seria até possível caber o certificado de negação ao óbvio, seria admirável da minha parte achar que o correto era o improvável: de que eu sairia ganhando. E quando eu merecera a vitória? Quando passei a ser o escolhido? Vai ver era um sintoma pré-psicótico. Sempre fui o pré em tudo. Previsível predestinado a ultima prece.
Levantei sem mais palavras, sem discursos e sem ações, emudecido. Vou-me embora frio, como quem esquecera o agasalho em casa. Pude ouvir a última música, a música pobre e infeliz, dentre todas as músicas repetidas que tocaram na minha cabeça, música de cabaré. Eu estava num cabaré.
"Eu tô calmo
Bem a pampa
Desconta o álcool
Da minha conta
Ela não quer ir comigo
Ela quer aquele amigo
Que não é mais meu
Danem-se os dois
Então saio, bolso cheio
Miro na preta
Babo no seio
Desce o salto
Tô com dinheiro
Abriu-se a flor
À meia luz
E cheiro costumeiro
Abriu-se a flor
À meia luz e cheiro
Noite feliz...( pra mim)
Pra mim você e seu parceiro
A barracuda e o castor
Não sabem como é ser feliz
Dormi do lado de uma flor"
Cumpri a música e senti um gosto de primavera no outro dia.
18 comentários:
Athila,
Cara vc é cheio de dons!
Que voz bonita de cantar, a musica deu um tom Dusek e esse amigo... de castor, não tem mt, ta mais pra urso.
Genial o texto.
Bjocas, bom fds e apareça sempre!
Athila
Também estou de acordo com a Ira, tem mais para urso. :)
Gostei imenso e se você cumpriu a canção, está tudo bem.
A prosa é cheia, forte e uma boa narrativa.
Abraço
António
O texto poderia chamar: O dia em que o coadjuvante brilhou mais que o astro.
Bom fimde
Bjux
"O antigo, o quadrado do triângulo amoroso."
E o destaque!
Muito bom!
Beijos!
intenso, lírico e sensual ... amei como sempre ...
bsijo grande ao Áthila
bjux
;-)
Você sempre bandando super bem nas hisórias!
Adorei, abração! ;D
Athila
E depois você vem me dizer que não manda bem no português, hem?
Menino, você escreve como poucos. O elogio é justo, sem aumentar, nem tirar.
Beijo grande!
Athila, que dez, parabéns viu!
O texto está ótimo e a música maravilhosa , em sua voz.
Meu querido, beijos a vc, ótimo final de semana
Eu adorei! Principalmente qd vc diz que "ela enfeitava a mesa". Sabe o que ando achando bacana? A conclusão que muitas vezes precisamos de vários canais para expressar o que sentimos. Vc e Saulo Taveira têm feito isso muito bem. Vou lá e cá! rs
Abração
Vote certo!
Adorei!!!!
Vc me encanta!
bj
Que legal, Athila! Parabéns pela boa escrita, que nos leva até o fim, diga-se de passagem! Li duas vezes, porque vi e ouvi um poema, sei lá, não a música, mas o conto mesmo, se é que assim posso chamar. Que importa o nome do gênero agora. Então lendo a voz alta, constatei... é um poema, ao menos, pra mim..."E eu hipnotizado, a sua presa." Gostei. Obrigado pelas visitas lá no Palatus... suas palavras alimentam a casa. Dsão sentido. Ah, a música é sua? É cantada por ti? "Pla-pla-pla-pla", palmas.Um abraço.
Texto primoroso, bem lapidado. Mordaz tua visão dos bichos que andam à noite "Crias suculentas à mostra, em posição de festa e socialização". Captaste o âmago, talvez.
beijos.
"Sempre fui o pré em tudo. Previsível predestinado a ultima prece."
Muito bom o texto!
E obrigado pela visita e comentário em meu blog!
Abraços!
Parabéns pelo "conto". Muito bem escrito. E ao ouvir você cantar, imaginei a música como fundo musical numa fita de cinema em que a história se chamava "A flor desabrochou a noite"
Abração, Athyla, e, mais uma vez, parabéns.
Muito bom, muito bem escrito o texto!
Abraço
Olá querido.. adorei o Texto.
Parabéns pelo seu Dom Divino.
Que Deus te abençoe sempre !!!
Bjsssss
Meu amigo, vejo que eu sim estou sendo previsível em dizer-te coisas que muitos vem dizendo: teu talento é claro e ilumina mesmo a blogsfera.
O conto é lindo, o rapaz perdido que era caçador virou caça dispensada. Senti como se a música fosse o fundo da cena.
Bem a música, interesSantíssima, tua voz, cada vez mais acertada no cantar (que invejinha. heheheh)
Beijos, meu amigo. Desculpe a demora em postar aqui mas já estou ansioso pelo próximo texto-canção.
Essa primavera aqui está quente e cheia como essa passagem:
'O “chop” quente e o batom vermelho da caça, sempre cheios. '
Abraços.
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