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terça-feira, 26 de julho de 2011

Rompante

Muitos de vocês já se imaginaram em um palco minutos antes de se apresentarem. Os que ainda não tiveram essa oportunidade que me perdoe de coração, mas esperar pela arte é como ouvir sermão de parente distante.

Cada degrau um nível, cada tombo um levante, cada revolta um rompante.

sábado, 23 de julho de 2011

Piada Batida ou o que não foi dito durante a anedota

Durante as seguintes linhas quero esboçar a arte mais crua do ser humano. A arte de tatear as emoções e tapear idéias dentro de situações corriqueiras; geralmente a arte dos infortunados que dançam aprendizes no tempo. Dramáticos e amorosos, alcançando a precariedade de uma nota. Notáveis artistas de rua, padronizados a pó por uma trama delgada.
Possuidores da independência – me parece mesmo um clã ou uma gangue, e seu sinal convidativo é o tintilar das taças seguido da quebra dos talheres interiores; sinos e mosquitos que são pelo simples fato de exagerar ao máximo sua existência.
E assim foi seguindo uma cadência, até que ele me chamava, o ator melodramático, despretensiosamente levantando sua voz diante de dezenas de pessoas. A música até soou menor, decerto se abafara àquele gesto; e o ritmo malicioso das cornetas de fora tomava conta do lugar.
Aquele ambiente remetia ao que parecia ser naquela hora: remetia a um lugar maldoso, porém convidativo. A fantasia das cenas impostas sobre as cores mornas dos lugares frios; o momento em que anunciava uma revolução consolidada num jogo de passos ríspidos. Levantava a voz sem a notoriedade sindical dos dizeres que me atingiam rápido como banho frio.
Era piada eu sabia. Enquanto admirava toda a massa escandalizada de transeuntes, olhava de canto procurando pelo interlocutor e ele sorria. Ele estava prestes a dar o bote e sem aviso alcançou minha atenção - digno de um holofote. Não, eu não achei engraçado, apenas disse que a piada era boa e pra que ele ensaiasse um pouquinho mais.
O elemento surpresa foi perdido enquanto todos os presentes na mesa aplaudiam aquela situação cômica. E sem o menor interesse ele apertou a minha mão como quem aperta a mão de um amigo - estava quente e viçosa, sentia os dedos do rapaz rechonchudos deslizando como que se apresentasse com certa classe e clareza um personagem; ‘prazer, César, seu criado’ foi o que ele disse enquanto procurava meu olhar analítico.
Sorria; intencionalmente ensaiado.
Seu sorriso despertou uma desaprovação profunda, sorria de canto esquerdo, um modo desmedido de cumprimento, a boca tremendo como que para uma boca não tremer fosse necessário um soco; e acho que todos percebiam – nem por isso deixaram de comentar o talento do rapaz que anunciava novas artimanhas, parece que seria uma chuva de palavras mastigadas que seguia os aperitivos da mesa, parece mas não era de certa forma um escândalo e sim uma incoerêcia – o meu constrangimento com o artista de botequim na verdade era de praxe porque não cedia meus minutos ao tédio do riso condenatório e sim às permutas de nossa comunidade, menino desligado que sou.
Quanto mais ele se aproximava de mim, suas palavras eram rasteiras e com teores dominantes. Podia jurar que um dia aquela bola de neve cairia sobre minha cabeça. Parecia mesmo ser necessário se fazer um show naquele dia. De modo que sobrepujar os insensíveis e toda classe de românticos era praxe para os artistas, condizente de mira incerta que me atingia. Um passo em falso e também seria capaz de aniquilar a cidade de Roma, isso se ela estivesse ali na sua frente e enfaticamente pedisse por um ‘acende fósforo’.
Fogo e água ao mesmo tempo reduziriam os riscos, mas não o teor daquela calamidade.
Cozendo e triturando deixas, era o terceiro comportamento moderno, balbuciando verdades inteiras. Enquanto navalha cortava rente deixando sua pele limpa. Enquanto piada mostrava que a morbidade não estava representada nas dores ou na comédia das almas.
Seguia na forma anfitriã de camadas mais duras e ínfimas; sua castidade alva e tenebrosa indicava os maus feitores que atrairiam possíveis problemas e se ajudasse serviria de bálsamo, antes fosse mais relaxado e não pronunciasse tanta escória. O maior de todos os problemas era o de falar bastante e não prestar atenção nos ouvintes, sequer dava ouvidos ao seu ouvido, por isso pecava e jamais confessaria algum sermão
Indignava-me e insistia a mudar sua personalidade.
As dores mais secretas que seu olhar era permitido em diagnóstico. A sua aparente vista, mas ao nível de maquiagem, encoberta entre os brindes e as comandas quitadas a sua dor mais secreta. A mulher que antes nua se deitava junto ao seu corpo e as carícias de tempos antes, explodia-lhe a mente como combustível de molotov.
Ah, o amor que antes o artista presenciava pela moça; doído por dentro de suas carnes frescas, nuas e untado a gosto. O amor de luta de faca. O amor de marteladas e de ferroadas que ia até a forca.
Deixaria esta moça de lado por um bem maior? Ou refrataria sua nobre solidão? Questionamentos em seus olhos incríveis que de mistérios arraigados entre as poças aturdiam o silêncio das pausas.
...
E o amor.
...
E o ódio e o pavor ao direito de tomar um gole.
De seu trono demarcado a faro e forma, feria a festa.
Criatura que era, abençoada com o dom de beliscar momentos à guisa da candura alheia; merecedora do tesouro cadavérico que o sustenta feito máquina, repetidamente em série única, desferindo caretas azarentas e apontando falhas independentes.
Norteava os bêbados, enfeitava a noite e nesse feito arrecadava sua platéia, menos a mim mesmo que já estava arrecadado pelo incerto.
... E a paixão.
... E agora?
INICIANTE ARTE DE FAZER SORRIR; era seu letreiro mais secreto.

domingo, 10 de julho de 2011

Nasce Os Imputáveis

Bom gente, eu e alguns escritores amigos estamos com um projeto de criar um blog com contos sujos.
Cada dia um escritor diferente, e um conto picante.


E hoje é a minha grande estréia:


Espero que gostem!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Polução noturna

O mandante de toda aquela execução estava dormindo. Em seu sonho podia ser quem quiser. Podia ser uma ave ou outro bicho. Em qualquer situação. Ordem ou circunstância. Ele começava a parlamentar idéias, repartindo-as em filetes de histórias e transpassando-as pelo decodificado sistema R.E.M.. Agora estava ele de pé, em um jardim florido de petúnias sob um sol persistente e uma brisa revigorante. A pele úmida e os cabelos ao vento; luzes se aproximavam, não era nada parecido com o que já tinha visto, mas ele reconheceu, sua mulher estava dançando de forma exótica. Uma dança jamais executada,uma mulher na cama, o problema de toda a criação em uma cena de minueto explícito. Ela dançava invertida, de maneira que seguia um compasso ao contrário, e o som de um coral de pássaros que vinha de uma fita cassete antiga acompanhava na função reversa aquela dança sedutora. Enquanto a cena se normalizava em meio aos gritos e os gemidos que a respeitável madame produzia enquanto dançava, ele imaginava ter o maior cacete do universo e nesse momento ela se sentia como uma rosa, desfolhada por beija-flores. As rosas se despedaçavam onde a vara do herói passava, e outras petúnias preenchiam o espaço de seus estandartes, como num passe de mágica ali estava outra.
Cores... Cores... Muitas cores... Ele avista um lago vermelho e azul.
O lago de garças vermelhas, todas elas com peixes azuis a boca. Ele estava em um barco na tentativa de pescar as garças vermelhas. Mas sua isca eram os peixes azuis do lago, que ele tentava pescar da boca das garças. E ele ficava nesse impedimento. Até convencer uma garça a abandonar o lago e a comer um pedaço de pão. Pra que? Os peixes se soltaram da boca das garças e todos eles se revoltaram e empurraram o barco do rapaz para a margem do lago. O lago ficou azul e o céu vermelho. Os peixes tentavam pular para a boca das garças, mas já era tarde, todas elas estavam voando. E nessa tentativa os peixes se afogaram e o lago secou. Ele assistia aos peixes se debatendo até que imaginou os peixes transformando-se em pães, e o céu antes vermelho completava-se com o azul da tarde, em perfeita harmonia, peixes e garças. Até que ele se acorda pra tomar água. Não sabia o porquê daquela mania, mas ele gostava mesmo de ingerir água pela madrugada. Resolveu não pensar em nenhum tipo de transtorno médico, apenas pegou a jarra de água da geladeira e bebeu tranquilamente, todo o líquido, até que se esgotasse da garrafa. Fechava a geladeira, desligava a luz e voltava para a cama, saciado de um lago. Deve ter sido do lago mesmo, constatou, depois de atirar uma escama de peixe da boca. De repente seu lábio secou e ele encolheu. Começou a cair pelo espaço que não dava mais no chão.
Ele estava caindo em um abismo e começou a gritar. O eco chamava por ele. Ecos para todos os lados, ecos grandes e sonoros retornando aos nossos ouvidos quando antes ecoados. Pelo eco foram atendidos seus desejos. Ele caiu no abismo. Sem destino. Aéreo. Às vezes isso acontecia quando encontrava uma folha de papel. Punha- se a folha na palma das mãos e saía correndo, de forma que por ação do vento a folha começava a rodopiar e a levantar voo, e ele viajava como um garoto, avistando todo o céu e podendo mordiscar as nuvens. Retornava ao chão como uma pluma, sem nenhum ferimento e sempre acordava feliz.
Noutras vezes sonhava que estava nu, correndo pelas ruas e sentando em bares lotados, vez ou outra tocando músicas nesses lugares, ou ouvindo músicas totalmente desconhecidas. Sonhava com querubins inventando cirandas de ceroulas; e punha-se a esquecer quando todos percebiam sua nudez e começavam a caçoar de seu sexo, causando-lhe vergonha e uma irritante sudorese ao passo de que quando acordava irritado.
Um olho pisca, enquanto o outro aponta a pestana e libera o vermelho da vista. Ele interpreta explosões nucleares, e interage com deuses nórdicos. Não há menor sentido nas palavras que pronuncia, sequer recorda que aprendera alemão ou tinha tido um orgasmo. Todo e qualquer remonte é seu e não há indícios de outras construções, já que tudo está na cabeça dele, tudo foi arquitetado enquanto ele dormia.
6:00 AM, o horário, o relógio apita.
O sonho tentava puxar mais uma história, ele tenta dormir mais cinco minutos, porém o impulso do alarme fora tão grande que impediu que ele retornasse ao sono.
Veste a roupa, escova os dentes, toma o café e sai de casa atrasado pro trabalho, com a cueca toda melada.

Aguardem,

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Violação de Privacidade

(Textos Grotescos)

O seu sorriso era mais que perfeito, entre todos os quadradinhos que se apresentavam na tela você sorria mais. E foi por isso que eu te escolhi. Foi porque você era linda e sempre estava lá, verdinha, disponível para mim.

Enquanto acariciava a tela do computador, João estava indignado com a presença cibernética de seus amigos que o fitavam pelo webcam. Um deles chegou até a enviar uma mensagem de apelo - VÊ SE OLHA PRA TRÁS – enquanto assistia a vídeos eróticos em sites adultos.

De repente João estava com uma sacola de supermercado enfiada na cabeça. Uma mão peluda a cravar-lhe o pescoço, enquanto ele esbaforia e gritava desesperadamente.

Como tentativa de sobrevivência João prendeu a respiração, tentou morder a sacola em busca de uma entrada de ar e desferiu uma série de cotoveladas errantes no intruso.

Na terceira cotovelada frente-costa, João conseguiu acertar os bagos do rapaz.

Quando João retesou, pode constatar que o maldito metediço era um conhecido seu, o amigo André.

André gritava de dor, ajoelhado no chão, enquanto João colocava-se em posição de abate.

’calma... João, eu estava só brincando’. Tentava se explicar André.

João enrijeceu o sexo e desceu as calças de André. João enfiava-lhe toda a vara até os bagos alcançarem os glúteos. E vociferava: ‘Era esse tipo de brincadeira que lhe ensinavam na creche? Da próxima vez avise quando for tentar me matar’.

André gemia de dor.

‘Você é mesmo uma mocinha’. Sussurrou João, enquanto se levantava e limpava a bosta presente em sua jeba num lençol.

‘ Sou mesmo. A propósito, sua casa está um lixo, quando é que vai arrumar essa bagunça?’

’Quando você parar de vir aqui. ’ Disse João ríspido.

‘Vai sair com Verônica hoje?’- perguntou André, enquanto averiguava se ainda tinha cú.

‘Não sei cara, não to meio preparado pra aturar a falação daquela moça, não. Cara... Diz aí: por que mulher fala tanto?’

‘Mulher fala muito porque não sabe esperar a hora certa de falar... Tem a hora certa de falar e mulher não sabe disso... ’

‘Não sei cara, esse assunto é muito complexo. Eu só sei que tem cerveja na geladeira e bagulho no armário da pia, sirva-se’. Completou João, enquanto acendia seu cigarro.

‘Sabe amigo, pra mim essa Verônica tá te fazendo de otário, abre teu olho João. ’

’Já abri o teu hoje ...– brincou João – Cara, eu só estou esperando ela ficar online... Ela é o meu sorrisinho perfeito... Meu quadradinho verde..., Cantava João o sucesso da época.

‘ Seu quadradinho uma ova. Ela é do mundo! Você tá muito apaixonado cara, mulher não gosta dessa manifestação calorosa toda, não... ’, disse André, enquanto enrolava o baseado e umedecia as pontas do papel com a língua; ‘... E outra... ela sabe que está podendo e é gostosa. Mulher assim gosta de ser desafiada, fique dois meses sem falar com ela e depois meta lhe uma surra de pica’, sentenciou.

‘É. Você tá certo cara, acende esse bagulho aí e deita aqui comigo. Vou ficar em casa hoje, ela que me procure’.

E João se deitou com André como de costume. A janela aberta e uma leve brisa de vento a tocar suas peles nuas. Janela esta violada pelo vento, pelas palavras e ações que nunca foram registradas.

Janela esta aberta para a violação.

A violação é assim mesmo; é como o suor frio de quando estamos sob um consentimento de poder descobrir o presente jurisprudente violado.

A violação é quando menos se espera e se é violado. Ser violado é ser descoberto, destrinchado, inserido em uma nova situação.

Ser violado é ser aberto.

Enquanto João e André fodiam na cama das mais variadas formas e vontades, Verônica, a verdinha de sorriso único, acabava de mandar uma mensagem privada no computador de João:

‘Oi. ’.

João não respondeu, sequer ouviu o barulho da chamada ou sentiu a vibração do aparelho. João estava ocupado.

João estava vermelho; violando um amigo.