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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Dígrafos

Acha? Já eu tenho certeza das suas maluquices; as minhas? Estão nos seus olhos, nas suas dúvidas banais, do quanto éramos diferentes, almas dispostas em choque, pilotos inconscientes na contramão, fogos de artifício falhos e errantes, meninos famintos jogando bafo na esquina do crack, filhotes amestrados aprendendo a sucumbir tarefas, estrangeiros estranhos em lugares distantes, nascidos para o aplauso da massa crítica, aceitando cinicamente o teatro imposto pelo riso, pelo gosto do gesto, da hipocrisia documental do homem, do crivo social, da prática molde partidária, das preces urgentes, dos que gritam de dor e não são ouvidos, esgotados pela velhice do sistema de saúde, dos impostores que ganham dinheiro nos cassinos, dos impostos controlados pela empresa, da mídia que pintou a sua cara morta, maliciosa e fútil, da beleza cosmética dos estandartes, digna de lavagem e tomates podres, dos esqueletos padronizados pelo sistema estético, implantados em comerciais, em vitrines de loja, nos holofotes , nos palcos e nas platéias, na precariedade dos traços à lápis, sem idéia fixa, primitivos e amorfos, mal publicados, carcomidos pelo tempo, pela beleza do primeiro encontro na colheita amarga e sertaneja, pela falta de chuva, de esgoto, pela sede de água doce, pelos suores das praias, dos atos sexuais e pueris esfriando as carnes e desinibindo a banda, pela classe que cantava errado esquecida no jingle previsível e chato, de caráter ressonante e dígrafo.