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sábado, 11 de dezembro de 2010

sábado, 4 de dezembro de 2010

E se...

O iluminado fosse um cantor infantil:



Ode ao nariz

Narizes redondos
Narizes achatados
O nariz é um buraco
Uma parte de você
Narizes felizes sem crises alérgicas
Nariz estressado comendo catarro
Feliz é o nariz que vive arrebitado
O nariz pode ser móvel
Se você nascer um elefante
O nariz pode ser model
Se você for muito elegante
Narizes de bulbos e fossas nazais
Nariz cartilagem de seios frontais
Narizes são essencias
Narizes são especiais
Vamos todos respirar (2x)
Narizes são essencias
Narizes são especiais

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Entre o cimento e a casca


A casa é sua se você se comportar. Se não, é rua. Da couve, você não gosta. Tampouco prova vegetal. O suco da casca do caule da couve é uma delícia. Não são restos de comida, são sobras. Boas sobras que não deveriam ser desperdiçadas. Requentar o café é uma delícia. Não é ganhar o senso de praticidade, é ser econômico; estável. Ser poupado de sair de casa pra gastar. De ferver a gordura em fogo baixo. Tirar do próprio cimento só vale quando realmente é necessário, quando não há mais casca em casa. Só vale quando há fome. É ser mais humano e pensar no outro e no amanhã. Ser notório; o verdadeiro homem.
Uma vez na minha horta uma semente de arroz nasceu sem casca e morreu de frio, desidratada. É pensar no frio, no vento, nos átomos e no tempo, na germinação cíclica. Pensar que aquela semente de arroz não vingada poderia ser seu filho e você a casca, a gestação. Minha terra pariu uma semente de arroz com casca, neonato quente e fresco; cozi e comi o cereal até que se desintegre sua casca, me proporcionando energia nutricional. Nutrição, digerir a casca para sobreviver. Sobrevivência antes, maternidade depois.
Uma vez uma senhora me pediu dinheiro na rua e sem nada virei um somente; virei semente na terra esperando por chuva. Mas sorri pra ela. Às vezes um sorriso basta. Sorrir é música para os olhos de quem ganha o sorriso. É importante sorrir. Sorria. Sorrir é de graça. Se você se permitir será como um sorriso métrico, com direito a refrão chiclete, melodia. E a felicidade poderá ser a nossa casca, a nossa casa. A felicidade pode estar na rua, no escuro da noite entre os vadios e vagabundos, na retribuição do sorriso de uma senhora, no simples gesto de encobrir um filho e beijá-lo antes do descanso REM, no simples e extraordinário “bença” pra avó, no sentimento de dever cumprido quando encostamos nossa cabeça no travesseiro. Dormir de pés cansados é revigorante quanto se tem algo pra poder sonhar no outro dia, mesmo que a juventude já tenha esvaído boa parte dos sonhos em suas loucuras; ser jovem de espírito é o bastante para quem tem os pés cansados.
Uma vez um homem construiu uma casa com tijolos e a arquitetou com sua falsidade “acimentada”. A família que nela habitava vivia muda. Falavam só o necessário. O “bom dia” da alvorada terminava em “boa noite”. Era noite. Era trivial demais. Os filhos não reconheciam a mãe, que tampouco tinha o marido. Tinha-se o homem em casa, e não o marido. Tinha-se uma esposa em casa, e não a mulher para o marido. Tinham-se os filhos, o pai e a mãe, o cachorro, o retrato de família, os sorrisos e até se podia fofocar com os vizinhos, era banal. Na verdade era casca, uma base casca. Faltava compromisso, não tinha o lar, nem a família. Era uma casa. O homem construiu uma casa e criou seus filhos, mas não amou de verdade: foi casca. A mulher colocou toda sua esperança no filho, que agora já é homem: foi casca. A filha procurou por um homem bonito e rico, com seu cimento moldado a pó base: foi casca.
Uma vez um menino queria salvar o mundo, mas se iludiu drasticamente. Os desenhos animados são as figuras que dominam o pensamento infantil, de que o mundo é colorido e divertido; são suas idéias de liberdade. Mas quando a liberdade quebra sua casca ela quer nascer, criar asas, e para um menino ela nasceu na forma de um herói com super poder, liberdade fantasiosa; fantástica, ilusória. Com sua capa, o menino subiu até a janela e se atirou pra voar, foi-se, pensando ser casca leve, livre. O herói voa, mas o menino não. Cimenta. É preciso também ser casa, cimento; pé no chão. Vou ser mais direto: É preciso levitar dentro de casa na casca. A liberdade é o ato de pensar sem rédeas, mas com cautela. É necessário saber a hora certa de parar pra pensar no que é certo. Não se atira da janela sem o super poder que vive dentro da casca. Casa sem casca é tiro no escuro.
Não que quebrar o comportamento seja primordial, mas se faz necessário. Veja os exemplos de como ser feliz: Acordar todo dia com a pessoa amada do lado é bom, pelo menos é o que parece, parece especial. Ficar deitado até o meio dia também é bom, em casa, no domingo. Ter um emprego digno e sem mais preocupações é bom, é o que eu quero. É cotidiano, rotineiro, simples, fisiológico, é cimento. Dormir e não acordar mais é ótimo, se for pra sonhar no paraíso. É casca cúprica, daquelas que revelam apreciações únicas. É diferente.
Morrer seria engraçado se uma cortina se fechasse, dramática e vermelha como sangue quente. Talvez o palco seja dispensável, seja cimento, talvez o aplauso seja dispensado, feito casca. Há muito que lhe dizer, é o que parece, mas se minha casca é mole as palavras se dissolvem e o texto foge. É como doença crônica. É como dominar o dicionário: estar preso as palavras é casca fina. Utilizar termos técnicos, jurídicos é casca grossa. Casca dura, palavra dura; e você dista, é a lei natural do alfabeto: ir de A a Z em documentos. Casca fantasiosa não existe, é cinza. Pelo menos para os adultos o mundo é cinza. É o que acontece quando crescemos: queremos casa, argamassa. Um filme em preto e branco com a fala libra, fôrma e gesto, casca e fibra. Queremos tocar na película e moldar os quadros. Cinema é cimento. Pintura é cimento. É casa.
O limiar entre a espessura do cimento e cada tijolo deve ser respeitado. Temos o compromisso de ser essência, casca; passar vagamente pela vida e ser lembrado como um pequeno e rijo frasco de perfume. Um sândalo único. Mas sem pensar em ser o frasco: cimento; nem em ser somente a marca: a casca. Ser o que há por dentro. Diferente e distante de cada um, ser o que sustenta a união prateleira: colar. Validar o que diferente: publicar. Ser o que é: Perfume. Todos nós somos perfumes.

sábado, 23 de outubro de 2010

A Paixão segundo A.G


A paixão é assim: Você se apaixona por alguém, e esse alguém te abandona com a desculpa de se apaixonar por outra pessoa – Uma desculpa moral, muitas vezes feita com informalidade e delicadeza. Um telefonema chega e pronto: Está terminado. Não satisfeito com o deslize de alguém, você pernoita indagações sobre outra pessoa. Estaria alguém interessado por outra pessoa? Certamente há algum laço sendo construído em alguém, seja no âmbito profissional, ou amoroso – Não se deixa algo estagnado sem mover a poça da paixão, de modo geral não, mas há sempre exceções: os inconstantes –, então o seu “eu” fala mais alto e você tenta esquecer alguém; e quando por vez esquece você se apaixona por uma pessoa legal. A pessoa legal é legal no âmbito da palavra, porém você se cansa de empregar aquela expressão e o legal se torna chato por puro desalinho de síntese. O legal é algo divertido até o ponto de ser convivido corriqueiramente; e no cotidiano basta uma briga para desconstruir aquele castelo legal, variando seu julgamento em relação ao querer estar junto – Por hora desejo é tudo, querer solidão pode ser essencial–. A pessoa legal esfria, e você esquenta por motivos bestas, porém óbvios (na verdade são os motivos irritantes pra você e os bestas pra ela, que, de fato, são respeitáveis para ambos), causando o “esfriamento-ebulicional” da relação “legal” e dando brecha a uma possível aproximação da pessoa legal a alguém. Alguém é como o mundo o vê – Um figurante entre a multidão com a missão de enfeitar a história e deixar você na mão; neutro em relação aos fatos e condizente ao que é retratado –. A pessoa legal convive legal, mas o tempo faz o papel de tirar os falsos sentidos e de enferrujar as escovas de dente. A pessoa legal amarrota-se das atitudes imparciais de alguém – Pois, quem possui a frialdade de ferrar a sua vida, não merece pessoa alguma sem prévia listagem documental de bens ou acordo de danos morais e psicológicos – e se apaixona pelo outro. O outro é bicho treinado e não se apaixona por ninguém. Provavelmente nasceu com a destreza de um peixe em cardume homogêneo, seguindo apenas a direção em que o fluxo consanguíneo lhe aponta, escorregando entre dedos e dedos e dedos as alianças firmadas – O outro pode se passar por qualquer um, afrontando as diversas denominações deste texto, incluindo você –. Quando você está se recuperando de alguém o coração fica em aberto pra qualquer um, à espreita de uma boa isca humana. Você prepara o anzol e abocanha a presa, quando se dá conta qualquer um pode ser seu – E pode mesmo, basta ter a determinação do outro. Qualquer um casaria com um bom pescador de si, mas você é exigente demais e decide viver com a isca da solidão – Cômodo, porém estável e frívolo. O tempo passa e as crises de paixão regressam; e você acaba se apaixonando pelo outro, e, pelo que foi dito, poderia ser você ou qualquer um – Sua paixão agora é como toxina que não se biotransformou em matéria inerte, e o sentimento de outrora agora é cíclico e inflexível, escorrendo viscoso entre as válvulas de escape do pensamento, agora endurecido, entupido por um óleo de vasto reservatório denominado amor. Outra pessoa fica sabendo do seu romance com o outro; e acaba tirando o outro de você, como se tirasse um produto reciclado do tráfico de corpos e assinasse sua sentença de mercante fajuto de boas intenções – você fica só, sem o eu proporcionado pelo outro, sem o seu. Diante do espelho tu és apenas a metade do que fora quando estava só, quando não conhecia a outra face da paixão, na verdade um dia foste qualquer sólido de carne crua e intocável pelos desígnios do amor. O outro se estabiliza com outra pessoa até ficar cômodo demais. Daí a relação entre os dois só tende a piorar; ainda mais com a descoberta de traições do outro com uma pessoa legal. Alguém se irrita e acaba machucando outra pessoa, tendo o outro como objeto de posse. O outro continua sendo pseudo-estável e amante eterno, sempre com alguém ou uma pessoa legal, desde que ninguém tome posse de seu trono.
No final ninguém fica com você, e você descobre que é o único rei dessa história e não sabia.


Alguém entendeu alguma coisa?

Ninguém respondeu: “nada”

O outro ficou quieto,

Qualquer um poderia responder

Até mesmo você ou uma pessoa legal

Entenderiam o que é solidão

"Você não sabe mais dizer quem eu sou
Você não sabe mai me encontrar, onde vou, onde vou
Você se perdeu de mim, assim
O fim talvez seja com você
E nada que eu ofereço é bom
Se o troco é de graça então fico só, ai que dó, ai que dó
Coitado do coração que vive na pior
Não passa de mais um nessa cilada que você aprontou... O amor."
* Que fique bem claro a livre expressão, a licença poética, a criação sem rédeas não desmerecendo ninguém. O título da postagem é sim uma citação a obra de Clarice Lispector, porém o conteúdo não é uma gota do que representa seus escritos para a humanidade.