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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Violação de Privacidade

(Textos Grotescos)

O seu sorriso era mais que perfeito, entre todos os quadradinhos que se apresentavam na tela você sorria mais. E foi por isso que eu te escolhi. Foi porque você era linda e sempre estava lá, verdinha, disponível para mim.

Enquanto acariciava a tela do computador, João estava indignado com a presença cibernética de seus amigos que o fitavam pelo webcam. Um deles chegou até a enviar uma mensagem de apelo - VÊ SE OLHA PRA TRÁS – enquanto assistia a vídeos eróticos em sites adultos.

De repente João estava com uma sacola de supermercado enfiada na cabeça. Uma mão peluda a cravar-lhe o pescoço, enquanto ele esbaforia e gritava desesperadamente.

Como tentativa de sobrevivência João prendeu a respiração, tentou morder a sacola em busca de uma entrada de ar e desferiu uma série de cotoveladas errantes no intruso.

Na terceira cotovelada frente-costa, João conseguiu acertar os bagos do rapaz.

Quando João retesou, pode constatar que o maldito metediço era um conhecido seu, o amigo André.

André gritava de dor, ajoelhado no chão, enquanto João colocava-se em posição de abate.

’calma... João, eu estava só brincando’. Tentava se explicar André.

João enrijeceu o sexo e desceu as calças de André. João enfiava-lhe toda a vara até os bagos alcançarem os glúteos. E vociferava: ‘Era esse tipo de brincadeira que lhe ensinavam na creche? Da próxima vez avise quando for tentar me matar’.

André gemia de dor.

‘Você é mesmo uma mocinha’. Sussurrou João, enquanto se levantava e limpava a bosta presente em sua jeba num lençol.

‘ Sou mesmo. A propósito, sua casa está um lixo, quando é que vai arrumar essa bagunça?’

’Quando você parar de vir aqui. ’ Disse João ríspido.

‘Vai sair com Verônica hoje?’- perguntou André, enquanto averiguava se ainda tinha cú.

‘Não sei cara, não to meio preparado pra aturar a falação daquela moça, não. Cara... Diz aí: por que mulher fala tanto?’

‘Mulher fala muito porque não sabe esperar a hora certa de falar... Tem a hora certa de falar e mulher não sabe disso... ’

‘Não sei cara, esse assunto é muito complexo. Eu só sei que tem cerveja na geladeira e bagulho no armário da pia, sirva-se’. Completou João, enquanto acendia seu cigarro.

‘Sabe amigo, pra mim essa Verônica tá te fazendo de otário, abre teu olho João. ’

’Já abri o teu hoje ...– brincou João – Cara, eu só estou esperando ela ficar online... Ela é o meu sorrisinho perfeito... Meu quadradinho verde..., Cantava João o sucesso da época.

‘ Seu quadradinho uma ova. Ela é do mundo! Você tá muito apaixonado cara, mulher não gosta dessa manifestação calorosa toda, não... ’, disse André, enquanto enrolava o baseado e umedecia as pontas do papel com a língua; ‘... E outra... ela sabe que está podendo e é gostosa. Mulher assim gosta de ser desafiada, fique dois meses sem falar com ela e depois meta lhe uma surra de pica’, sentenciou.

‘É. Você tá certo cara, acende esse bagulho aí e deita aqui comigo. Vou ficar em casa hoje, ela que me procure’.

E João se deitou com André como de costume. A janela aberta e uma leve brisa de vento a tocar suas peles nuas. Janela esta violada pelo vento, pelas palavras e ações que nunca foram registradas.

Janela esta aberta para a violação.

A violação é assim mesmo; é como o suor frio de quando estamos sob um consentimento de poder descobrir o presente jurisprudente violado.

A violação é quando menos se espera e se é violado. Ser violado é ser descoberto, destrinchado, inserido em uma nova situação.

Ser violado é ser aberto.

Enquanto João e André fodiam na cama das mais variadas formas e vontades, Verônica, a verdinha de sorriso único, acabava de mandar uma mensagem privada no computador de João:

‘Oi. ’.

João não respondeu, sequer ouviu o barulho da chamada ou sentiu a vibração do aparelho. João estava ocupado.

João estava vermelho; violando um amigo.