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segunda-feira, 27 de junho de 2011

Filosófica cadeira


Uma vez era de se esperar que ela me reprovasse. Diante de toda sala, eu, a chamar pelos colegas de turma e não ser atendido, o porquê do zero sentenciado por aquela boca impiedosa até hoje não se sabe, nem tampouco de suas consequencias. A prova estava mais fácil do que um livro aberto; e esculpindo as respostas estava eu, enquanto a inquiridora fuzilava nossas cabeças em seu vai- e-vem amedrontador, mas menos ameaçador, porque eu era um ator decorado naquela filosofia que ela tanto empregara no semestre. Sentia que como na questão um a prova era armadilha, mas não me afugento no caos da magnitude humana de quebrar nossa percepção.
Sim, era teatro total, transporte de sangue para o cérebro e antes que me deixasse ‘anóxio’ pude cumprir a tarefa sem ser pego por sua ilusão - a ilusão de quando minha inimiga estava sentada no escritório secreto , preparando o seu veneno e o pontuando – esta, por exemplo, valia um ponto.
Incrível é que os venenos mais potentes valem mais, ou incrível não é, pois isso é coisa da cabeça, às vezes é um buraco ou às vezes é só um escuro com um interruptor do lado e pronto: luz!, caminho livre para a próxima etapa.

Os testes são assim: melindrosos ao erro, sempre; lei natural ameaçadora. E não, e não creio que deveriam sê-los, mas quando estamos em uma fornalha com níveis, ficar perto do fogo pode ser acolhedor e perigoso, ficar longe é morte certa. Pondere sua cabeça para a umidade ou nada disso, esqueça , estou mesmo descontente com a forma de ensino; e sequer ela não nota, mas a minha careta está no lápis e nos garranchos que o sistema vai ter que decifrar. Depois eu mereço a guilhotina; eu e todos os alunos merecemos o inferno, e todo o sistema de regras gramaticais. A química é a química e pronto - para mim que sou otário - “ou eu?”- e fantoche das ressonâncias, do acerto, da próxima questão.

Sabe, na verdade não era isso o que podia ser feito. Acho que podia ser feito mais do que ela esperava, e assim o fiz, não porque deveria ter feito, mas por pura vontade de fazer o que podia ser feito. Esse fazer era poder e assim ela estaria pronta para a próxima resposta, mas naquela hora não, não era o momento certo de iluminação ou consciência, era embotamento e alerta; uma mulher presa numa torre de vidro que pensava ser feita do mais valioso cristal e que esquecera os sapatos de mais estima na festa, em sua sala de aula, enquanto o mais apropriado era fazer da vida uma grande limitação territorial acerca dos principais problemas dos filósofos modernos.

Zero. Foi mesmo o que ela disse. Zero e mais nada. Mas como pode ser um zero, como pode não valer um traço, uma idéia, mesmo que esta esteja errada? Se me explicar, te dou um ponto, ou um beijo pra quem for de beijo - mas pra ela não valia nada, uma pena, não pra ela! Um tijolo nas minhas costas e a minha decência de abaixar o ritmo; é que não estava lá e esse zero não foi pra mim, e sim pra todos os que defendiam aquela causa.

O que apeteceu lhe convinha e foi posto em prática. Quem sentenciou sofre, sofre secretamente ou gostaria de entender o que é sofrer. Quem sentenciou sabe o peso do valor sentenciado. Por isso mesmo merece ser vigia até o último instante.
Um cometa cai na terra.
O mundo explode.
Os dinossauros.
Os diamantes.