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sábado, 29 de outubro de 2011

O último parágrafo

Havia uma estrada no deserto, e nela foi posta a decisão de ser seguida à risca sem interrupção. Necessariamente para tudo existe uma estrada. Se esta está bloqueada ou em obras é fatídico dizer que só o tempo teria posse dos tijolos para uma reforma construtiva. Se esta estagnou ou uma grande cratera se abriu é porque de dentro dela não se pode atirar, declinar ou tapar buracos. Aprofundar cada vez mais para o centro da terra é ir direto a caixa de pandora ou até mesmo ao eterno caixão. É temeroso, é incerto, e esta falta de obrigação e curiosidade lhe implica um erro: a culpa.

Seus tiques se tornam cada vez mais tortuosos e sua chamada já não é contínua, você defasou, você contribuiu para a morte de centenas de pessoas quando atirou a palavra nula ao vento, você silenciou estes versos que agora são um presságio.

Dito isto e implicitamente ofendido eu fico a mercê da inquietude de sua alma não levantada ou primariamente sucumbida ao inferno. Não que o inferno seja aqui nesta terra – e se realmente é, graças a Deus, iremos passar por isto junto, ao relento–. O presente de cada dia está lacrado e corrompido pelo desejo de ser ‘o dia final’ fatal para a raça humana. Sabiamente você desgastou esta pedra mimosa, mas não a moldou como deveria. Você apenas arranhou mais um disco que está em extinção. Palmas pra você que agora está mudando o mundo; palmas pra platéia que agora está em silêncio escutando somente a sua voz enfraquecida e com baixa frequencia.

LEVANTE, seu energúmeno. É isto o que a platéia mais espera de você: o seu ato mais louco, o seu melhor rabisco ou pelo menos a caligrafia redonda sem erros de concordância.

Seriamos escolhidos para um novo tempo se este ajudasse a trabalhar os defeitos da alma e da ignorância. Inquietude e solidão andam juntas e o amor jamais é conquistado sem as pedras pelo caminho, que é deserto. E você pra isto tudo? Nada, nem um oásis sináptico. E eu que só descrevo e prefiro ficar na estatística, mais um texto pra ficar datado in loco. Deixe sua estatística e sua matemática financeira de lado, vamos gastar o verbo e alimentar esse mundo suburbano podre. Temos litros de lama para serem arremessados nas varandas dos intelectos, temos a placa mãe e até ela ser reconfigurada tem-se a conexão das classes de amigos e as amizades cibernéticas.

Mesmo que desta vez seja eu a parte embaraçada não é engraçado e nem um pouco hilária essa fase ociosa e melancólica. Nunca fui engraçado, nunca pedi licença pra entrar nesta sociedade poética e nunca dei baixa em nossos produtos supremos. Não sou caixa, mas fecho as contas e percebo que desta maneira tudo o que indica é o final de uma dívida interna, interiorana e egoísta suprimida por nossas ganâncias.

Como somos fracos, como nos ajuntamos em grupos pra sermos uma unidade, e isto se aplica diretamente feito vacina para todo o mundo.

Mesmo que eu, neste momento, deitasse, fechasse os olhos e fosse dormir; dormir é ficar parado e isto emplacaria do ócio ao osso. O osso que foi construído no feto foi feito para o músculo, o trabalho de inventar um movimento ginástico e ser aplaudido pelo acorde perfeito foi feito para o técnico. Digo mais uma vez que não quero ser julgado, nem defendido, muito menos quero algum comentário calunioso sobre meu pensamento.

Só sei que não se faz o pão sem a farinha e o fermento, só sei que aprendi a escrever na escola; e a ralhar mesmo aprendi com a vida que sempre será justa para poucos aventureiros – aqueles que chegaram até o escuro e conseguiram ligar o interruptor do medo. O medo está sob vigia, guardando sua prosperidade. Você com medo não é nada, não vale nada, nem mesmo este texto valeria de algo se nele há o medo.

Chegue mais perto da escuridão, desça as escadas sem corrimão, toque a caveira interna e lute contra as pragas de Deus, não tenha medo, não, nada está em julgamento sem um advogado de estado de espírito elevado. Sinta o prazer de ser a chacota da semana e preste atenção nas imundícies das carnes alheias. Só não rejeite estar neste inferno, pois ele será sua passagem para o êxtase, quando na felicidade eterna uma alma se apodera de glória, ou duas almas se encontram em perfeita sinergia. Estas sim são aclamadas com o anel do esforço em grupo.

Banalize o que é verdadeiro e tente tirar algum proveito de sua miséria, se encharque de suores e trabalhe para o trabalho com a força de um nobre operário. Não se opera milagre com os velhos tempos. O passado foi passado prá trás. O novo agora é sublime e difícil de ser explicado. O choque entre os planetas de seus xacras e o turbilhão de informações não regulamentadas são preciosos, mais preciosos e privados, mesmo sendo criados pelo lixo eletrônico, não deixem que as palavras sejam marcadas e retiradas pelos mais potentes antiquários. Estes lutam pela etiqueta enquanto os vícios se apoderam do orgulho normativo de suas letras.

No mais, este é somente o último parágrafo.

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sábado, 15 de outubro de 2011

Risco Sanitário

Por favor, insira o número de série na tarjeta e espere por dois minutos. Aguarde mais um tempo e se for necessário pegue o seu café. O momento de hoje é pra ser vivido em uma sequencia valiosa, ininterrupta. Não odeie a chuva, pois não temos lona, nem declare seu amor pelo céu nublado, pois você vai passar pelo escuro e acredito que verá a luz. Não se esqueça de guardar o número de protocolo que vai sair após o bipe – BIPE!-. Se não ouviu o bipe, pegue uma nova senha e aguarde na fileira de cadeiras perto da porta azul. Sente-se numa carteira vermelha. Se você pegar no lápis, escreva um testamento, pois o lápis foi feito para. Se estiver indeciso quanto a carteira fique de pé e espere o chamado; mas assim você não será convocado de forma rápida, você precisaria de um intercessor, por isso não olhe para as estátuas, elas roubam sua vitalidade. Vênus de Milo está com os braços dormentes e está se sentindo mal, por isso mesmo foi amputada.
Em caso de dúvidas vá ao guichê de informações e pergunte somente o necessário para não ouvir berros ou bobagens. Cuidado, não sente na sala de seringas; é perigoso; elas ainda não estão estéreis. Se você quiser, poderá esterelizá-las com seu grito, mas se você gritar um tom abaixo do determinado a caveira do escritório anatômico vai perder mais um osso e ruir. E olha que ela já está deficiente. Muitos de vocês pacientes já fizeram serviços errôneos, e é por tal motivo o número intenso de indigentes no necrotério. Se você por algum acaso encostou o ombro na parede vermelha faça o exame de sangue com urgência. Muito provável você será classificado como POSITIVO ou INFECTÁVEL. Se isso ocorreu, um novo vírus se espalhará pelo seu corpo em frações indeterminadas de segundo, pois o vírus é novo e as pesquisas ainda não foram feitas acerca de sua contaminação.
Aquiete-se, não tussa e não espirre na frente das bonecas, as crianças agradecem a preferência.
A porta deste estabelecimento está fechada e todos os que estão dentro provavelmente se contaminaram. Por efeito colateral você tem fome. Você vai pedir um quibe na lanchonete, justamente porque é o único salgado do lugar.
Das vantagens adquiridas é que você poderá percorrer por todas as alas, sem restrições e imunidades; aqui não separamos por sexo ou especialidades; podemos ver o parto de gêmeos, a operação de fimose após o parto e até mesmo a imundice amarelo-esverdeada do primeiro cocô. Você está para ficar doente, aceite. É como um tour ou um estágio, quem sabe você vira doutor em geriatria ou um ilustre psiquiatra.
Você poderá encontrar da criança ao velho e comunicar com eles, mas tente fazer isso de boca fechada, você já sabe libras? Se não sabe existe um local para. É mais ou menos como um corredor onde os mímicos dão gargalhadas pelas mãos, talvez você aprenda alguma piada e arranje uma namorada, talvez você seja uma piada e vague sozinho pelos corredores vazios. Os quartos estão lotados e são salas limpas. E se você apresentar liderança poderá moldar a sua forma este local no qual existe de forma descritiva e padronizada: Três camas por quarto, sendo um beliche e uma cama de solteiro. A cama de solteiro geralmente fica para o vice-líder e a beliche de cima para o dono do quarto. Você provavelmente não possui boa oratória, pois para isso existem cursos e a aptidão, que você não possui. Ainda não sabemos o seu talento ou não o escolhemos ainda. Então, por critério darwinista, você ficará no beliche de baixo. Cuidado! Se seu líder for muito gordo ele pode cair em cima de você enquanto você está dormindo. 5% das mortes desse lugar aconteceram dessa forma, pois não existe nenhum mecânico para apertar os parafusos dos beliches. A comida é boa e palatável ao menos; foi escolhida pelos melhores nutricionistas. E o setor de comidas está abarrotado de refeições. Diga-se de passagem, estas refeições estão sendo analisadas por uma indústria farmacêutica a fim de controlar o risco dos infectados, de forma a amenizar a causa do contágio por alimentos. Tudo isso é feito por um estudo duplo cego, em que nenhum paciente sabe se está ou não sendo medicado. E posso dizer que o efeito Placebo realmente acontece, em uma proporção de 4:1, pra ser mais preciso. Muitas das vezes se topava com pacientes acamados e bem alimentados.
Passando até o último corredor, a saída de emergência é uma porta negra. De dentro dela, ninguém podia ser visto, pois um montante se colocava em fileira.
De dentro da saída os médicos que sangravam pelos olhos aplaudiam os enfermeiros que amarravam na cama uma pobre senhora, vítima da peste negra. Este quarto escuro tinha como símbolo uma caveira. Não era difícil fazer a ligação entre a caveira e a morte. Pois os médicos já estavam em um estágio de atestado para a morte, enclausurados naquele quarto de escape onde se lia em aviso vermelho “Não entre se quiser descobrir o que a verdade lhe espera”. Ao lado dos dizeres, vários gatos miavam e ronronavam nos pacientes enfileirados. Você percebe a diferença de ambiente e se toca que aquilo é a libertação. Então você entra na fila.
Espera por horas, e percebe uma gritaria contínua dentro da sala. Um desespero que agonizava e era mesmo a melhor de todas as melancolias. A melancolia da morte. Sem a senha, desta vez você entra, porque pra morrer não é preciso de senha. Os médicos vaticinam o seu destino com a dose mínima de veneno. Enfermeiros te amarram numa cama. Você grita. E em poucos minutos tudo para. É sua Morte.
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sábado, 8 de outubro de 2011

A Fome

Bom, essa música é antiga, mas resolvi postar hoje. Espero que gostem!

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A Fome


A fome que mata a fome
Aquilo que a gente come
E basta, engasga o corpo

A fome que embala o berço
A fome que move o terço
E afasta o mal do homem

A fome primata
A fome que causa dor
A fome ingrata
A fome de bem senhor

A fome de apetite
Até que o estômago apite
E acabe o cigarro, o maço

A fome prima da morte
Que quando nos falta sorte
Você como alimento

A fome é parceira
Da casta gente de grana
A fome é primeira
Na casca subsaariana

A fome de sentimento
Do livre conhecimento
Por onde atravessa a ponte

A fome dor humanóide
Que vez se vê no tablóide
Causando temor aos montes

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