Havia uma estrada no deserto, e nela foi posta a decisão de ser seguida à risca sem interrupção. Necessariamente para tudo existe uma estrada. Se esta está bloqueada ou em obras é fatídico dizer que só o tempo teria posse dos tijolos para uma reforma construtiva. Se esta estagnou ou uma grande cratera se abriu é porque de dentro dela não se pode atirar, declinar ou tapar buracos. Aprofundar cada vez mais para o centro da terra é ir direto a caixa de pandora ou até mesmo ao eterno caixão. É temeroso, é incerto, e esta falta de obrigação e curiosidade lhe implica um erro: a culpa.
Seus tiques se tornam cada vez mais tortuosos e sua chamada já não é contínua, você defasou, você contribuiu para a morte de centenas de pessoas quando atirou a palavra nula ao vento, você silenciou estes versos que agora são um presságio.
Dito isto e implicitamente ofendido eu fico a mercê da inquietude de sua alma não levantada ou primariamente sucumbida ao inferno. Não que o inferno seja aqui nesta terra – e se realmente é, graças a Deus, iremos passar por isto junto, ao relento–. O presente de cada dia está lacrado e corrompido pelo desejo de ser ‘o dia final’ fatal para a raça humana. Sabiamente você desgastou esta pedra mimosa, mas não a moldou como deveria. Você apenas arranhou mais um disco que está em extinção. Palmas pra você que agora está mudando o mundo; palmas pra platéia que agora está em silêncio escutando somente a sua voz enfraquecida e com baixa frequencia.
LEVANTE, seu energúmeno. É isto o que a platéia mais espera de você: o seu ato mais louco, o seu melhor rabisco ou pelo menos a caligrafia redonda sem erros de concordância.
Seriamos escolhidos para um novo tempo se este ajudasse a trabalhar os defeitos da alma e da ignorância. Inquietude e solidão andam juntas e o amor jamais é conquistado sem as pedras pelo caminho, que é deserto. E você pra isto tudo? Nada, nem um oásis sináptico. E eu que só descrevo e prefiro ficar na estatística, mais um texto pra ficar datado in loco. Deixe sua estatística e sua matemática financeira de lado, vamos gastar o verbo e alimentar esse mundo suburbano podre. Temos litros de lama para serem arremessados nas varandas dos intelectos, temos a placa mãe e até ela ser reconfigurada tem-se a conexão das classes de amigos e as amizades cibernéticas.
Mesmo que desta vez seja eu a parte embaraçada não é engraçado e nem um pouco hilária essa fase ociosa e melancólica. Nunca fui engraçado, nunca pedi licença pra entrar nesta sociedade poética e nunca dei baixa em nossos produtos supremos. Não sou caixa, mas fecho as contas e percebo que desta maneira tudo o que indica é o final de uma dívida interna, interiorana e egoísta suprimida por nossas ganâncias.
Como somos fracos, como nos ajuntamos em grupos pra sermos uma unidade, e isto se aplica diretamente feito vacina para todo o mundo.
Mesmo que eu, neste momento, deitasse, fechasse os olhos e fosse dormir; dormir é ficar parado e isto emplacaria do ócio ao osso. O osso que foi construído no feto foi feito para o músculo, o trabalho de inventar um movimento ginástico e ser aplaudido pelo acorde perfeito foi feito para o técnico. Digo mais uma vez que não quero ser julgado, nem defendido, muito menos quero algum comentário calunioso sobre meu pensamento.
Só sei que não se faz o pão sem a farinha e o fermento, só sei que aprendi a escrever na escola; e a ralhar mesmo aprendi com a vida que sempre será justa para poucos aventureiros – aqueles que chegaram até o escuro e conseguiram ligar o interruptor do medo. O medo está sob vigia, guardando sua prosperidade. Você com medo não é nada, não vale nada, nem mesmo este texto valeria de algo se nele há o medo.
Chegue mais perto da escuridão, desça as escadas sem corrimão, toque a caveira interna e lute contra as pragas de Deus, não tenha medo, não, nada está em julgamento sem um advogado de estado de espírito elevado. Sinta o prazer de ser a chacota da semana e preste atenção nas imundícies das carnes alheias. Só não rejeite estar neste inferno, pois ele será sua passagem para o êxtase, quando na felicidade eterna uma alma se apodera de glória, ou duas almas se encontram em perfeita sinergia. Estas sim são aclamadas com o anel do esforço em grupo.
Banalize o que é verdadeiro e tente tirar algum proveito de sua miséria, se encharque de suores e trabalhe para o trabalho com a força de um nobre operário. Não se opera milagre com os velhos tempos. O passado foi passado prá trás. O novo agora é sublime e difícil de ser explicado. O choque entre os planetas de seus xacras e o turbilhão de informações não regulamentadas são preciosos, mais preciosos e privados, mesmo sendo criados pelo lixo eletrônico, não deixem que as palavras sejam marcadas e retiradas pelos mais potentes antiquários. Estes lutam pela etiqueta enquanto os vícios se apoderam do orgulho normativo de suas letras.
No mais, este é somente o último parágrafo.
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7 comentários:
um último parágrafo!
Está na hora de escrever um livro...pois, você escreve super bem;
abraços
E você sempre me põe a pensar. Obrigado!
Pra que se tenha plena certeza de que o lado podre das coisas merece ser ignorado, temos que conhecê-lo.
Acho certo assim.
Um beijo.
Não é fácil separar o joio do trigo meu caro.As ofertas são imensas informações, produtos, a toda hora alguém nos diz o que devemos ter,comprar e fazer para sermos felizes, é preciso de vez em quando parar, aquietar o coração e deixar que as cosias que realmente importam aflorem.
Beijosss
Esse blog vai longe. Ou outro que você inventar. Você pode ir longe. Pense nisso.
Abraço amigo.
sentir é melhor que entender, Áthila. Concluo isto após a leitura de mais uma das tuas catarses literárias. Sinto por trás das letras, palavras, frases, parágrafos o pulsar de uma mente inquieta e filosófica (inquieta porque filosófica e filosófica porque inquieta) e vejosinto em alguns pontos o descontentamento e a ironia reativa. Acho que me vejo em você.
Obrigado pela sempre intrigante leitura que faz de mim.
A gente se vê.
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