(Textos Grotescos)
O seu sorriso era mais que perfeito, entre todos os quadradinhos que se apresentavam na tela você sorria mais. E foi por isso que eu te escolhi. Foi porque você era linda e sempre estava lá, verdinha, disponível para mim.
Enquanto acariciava a tela do computador, João estava indignado com a presença cibernética de seus amigos que o fitavam pelo webcam. Um deles chegou até a enviar uma mensagem de apelo - VÊ SE OLHA PRA TRÁS – enquanto assistia a vídeos eróticos em sites adultos.
De repente João estava com uma sacola de supermercado enfiada na cabeça. Uma mão peluda a cravar-lhe o pescoço, enquanto ele esbaforia e gritava desesperadamente.
Como tentativa de sobrevivência João prendeu a respiração, tentou morder a sacola em busca de uma entrada de ar e desferiu uma série de cotoveladas errantes no intruso.
Na terceira cotovelada frente-costa, João conseguiu acertar os bagos do rapaz.
Quando João retesou, pode constatar que o maldito metediço era um conhecido seu, o amigo André.
André gritava de dor, ajoelhado no chão, enquanto João colocava-se em posição de abate.
’calma... João, eu estava só brincando’. Tentava se explicar André.
João enrijeceu o sexo e desceu as calças de André. João enfiava-lhe toda a vara até os bagos alcançarem os glúteos. E vociferava: ‘Era esse tipo de brincadeira que lhe ensinavam na creche? Da próxima vez avise quando for tentar me matar’.
André gemia de dor.
‘Você é mesmo uma mocinha’. Sussurrou João, enquanto se levantava e limpava a bosta presente em sua jeba num lençol.
‘ Sou mesmo. A propósito, sua casa está um lixo, quando é que vai arrumar essa bagunça?’
’Quando você parar de vir aqui. ’ Disse João ríspido.
‘Vai sair com Verônica hoje?’- perguntou André, enquanto averiguava se ainda tinha cú.
‘Não sei cara, não to meio preparado pra aturar a falação daquela moça, não. Cara... Diz aí: por que mulher fala tanto?’
‘Mulher fala muito porque não sabe esperar a hora certa de falar... Tem a hora certa de falar e mulher não sabe disso... ’
‘Não sei cara, esse assunto é muito complexo. Eu só sei que tem cerveja na geladeira e bagulho no armário da pia, sirva-se’. Completou João, enquanto acendia seu cigarro.
‘Sabe amigo, pra mim essa Verônica tá te fazendo de otário, abre teu olho João. ’
’Já abri o teu hoje ...– brincou João – Cara, eu só estou esperando ela ficar online... Ela é o meu sorrisinho perfeito... Meu quadradinho verde..., Cantava João o sucesso da época.
‘ Seu quadradinho uma ova. Ela é do mundo! Você tá muito apaixonado cara, mulher não gosta dessa manifestação calorosa toda, não... ’, disse André, enquanto enrolava o baseado e umedecia as pontas do papel com a língua; ‘... E outra... ela sabe que está podendo e é gostosa. Mulher assim gosta de ser desafiada, fique dois meses sem falar com ela e depois meta lhe uma surra de pica’, sentenciou.
‘É. Você tá certo cara, acende esse bagulho aí e deita aqui comigo. Vou ficar em casa hoje, ela que me procure’.
E João se deitou com André como de costume. A janela aberta e uma leve brisa de vento a tocar suas peles nuas. Janela esta violada pelo vento, pelas palavras e ações que nunca foram registradas.
Janela esta aberta para a violação.
A violação é assim mesmo; é como o suor frio de quando estamos sob um consentimento de poder descobrir o presente jurisprudente violado.
A violação é quando menos se espera e se é violado. Ser violado é ser descoberto, destrinchado, inserido em uma nova situação.
Ser violado é ser aberto.
Enquanto João e André fodiam na cama das mais variadas formas e vontades, Verônica, a verdinha de sorriso único, acabava de mandar uma mensagem privada no computador de João:
‘Oi. ’.
João não respondeu, sequer ouviu o barulho da chamada ou sentiu a vibração do aparelho. João estava ocupado.
João estava vermelho; violando um amigo.
6 comentários:
A privacidade do André, nunca mais será a mesma.
Bjão
Fazia tempo que não lia um bom texto como esse. Parabéns, Athila!
gente, eu ainda tow meio assustado...
Ser violado é ser descoberto, destrinchado, inserido em uma nova situação e, com isto poder tornar a vida plena e abundante ...
Athila
Em uma primeira leitura, o "escancarado" deste texto causa certo estranhamento,quase choca. Mas relendo, percebo que é um retrato perfeito dos instintos humanos, que são assim meio animalescos, selvagens, só que disfarçados na maioria das vezes.
Gostei.
Um abraço
Enquanto eu pensava que o João seria presa fácil da sacola, ele me surpreendeu. haha
Esse texto seria o clássic "o que os olhos não veem o coração não sente."
Abraços!
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