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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Pela metade

Ligo o vento. Estou pensando em sair e desistir, mas o vento está mostrando força. Uma força que esfria a minha pele e de certa forma acalma meu corpo. Minha mente já cheia e ninguém pra conversar. Sou um menino bobo, feio e mal amado. Será? Será que isso me esperou enquanto o vento me varre desesperadamente? Sei que talvez possa parecer um não, ou o impossível seja uma prova de persistência. Apenas rebato o que penso pondo a culpa no meu ânimo. O ser é perigoso, assim como estar parado também. Não temos o tempo em nossas mãos – com dezesseis anos sim, posso dizer – e a ampulheta é persistente lâmina em corrosão. Esperam por nós, os decompositores, mas nós não esperamos. Microscopicamente somos iguais a qualquer decompositor. Decompomo-nos em sílabas e formamos um momento. Crispado ou liso, formando um montante de miúdas cicatrizes do dia. Transpasso o que pareceria ser belo e real, e me apego. Apego-me a repetição e isso me devora. Dias e dias. Anos e anos. E ainda estamos. Estamos num todo sem rumo, praticando a arte de dizer o indizível; dimensionando os prazeres nas muralhas distantes da pureza. Que Deus ouça e realize meus desejos - Quer quando jovem e belo, quer quando na falência ou no desafeto das inimizades - Travarei uma batalha aceitando a derrota iminente. Fragilidade não é exposta sem o golpe final; e sem a ferida cutucada não foi um dia, não valeu. Semeio o que decorre de espaços em branco e fixo o que planto na esperança de vida. Vozes que nunca calam esperam serem atendidas, ressoa e não percebes? Enquanto lê ou se aporta nos braços de um amor, o que pensas? Fica em silêncio. Traduza o que realmente és - Os és são os maiores desafios da existência-. Assim subirás pelas rugosidades a procura de um seu tão intangível que desatolaria o rumo da vivência. Sim e não, meu e seu; um todo entre espaços dispostos irregulares, que certamente arranjados e com um sentido perfeito se tornarão concretos. Assim somos; nunca paramos por mais que aconteça uma catástrofe – continuamos os flagelados honrados -, mesmo com os corpos feridos e carentes – a vida não descansa em meio a uma tormenta. Dar abrigo aos quereres dos últimos abraços pra fornecer a esperança de despertar diferente é dar e não receber. E diferente somos; ainda bem - é certo -. Fito o teu semblante: um dos mais belos que já vi; se vi o mais belo talvez parecesse contigo. E da poça de meu Iris perpetuo a acuidade que apresentas – nem máquina seria capaz de guardar tão nitidamente o que vejo. Duas ou três coisas que admiro tanto: a leve tempestade que cobre minha cabeça a fita-lo, como que se estivesse noutra margem fosse seguro e tenro; toda a forma simétrica tingida de moreno-madeira que pra descrever me faltaria termos. Caindo por entre os vales mais obscuros no reino fantasmagórico é que me livro de suas ventosas hipnóticas, assim podendo usufruir de lembranças, somente, – as tuas – sem o medo do presente, que rejuntaria nossa história despedaçada. Creio que o vento será acolhedor nos próximos instantes, mas quando minha pele esfriar já será tarde, provavelmente me cansarei de tentar explicar o inexplicável. Por enquanto, me abasteço dessa linha esperando novamente uma resposta... E outra e outra e mais outra.

17 comentários:

Anônimo disse...

Amo este fluxo de pensamento. Você liga o vento e deixa arejar as idéias. Elas vem com força!

Abraço amigo. Você é um menino incrível.

Hugo de Oliveira disse...

Gostei do escrito..super simples e liberto ao vento.


abraços

Ira Buscacio disse...

Athila, meu lindão,

Eu gosto mt da sua calmaria, mas qnd vem a tempestade, eu me encanto com os seus raios.
Forte, meu querido, e demais.
Bjão

FOXX disse...

e que fluxo de pensamento hein?

Wanderley Elian Lima disse...

Complexo texto. Dificuldade nenhuma de ser capas de deter o rumo da vida. E as lembranças servirão de alento à caminhada.
Bjux

Marcelo R. Rezende disse...

Gosto de chegar aqui e pensar em cima do que você já pensou. Essa batalha de concordar ou não. Belo vento.

Paulo Veras disse...

É... não temos mesmo o tempo em nossas mãos. Mas sensação de pensarmos que o temos é sempre muito gratificante. Muito bom estar aqui de novo. Abraços

dand disse...

Hiiiiiiii, vc só póde ser do signo de Touros...complicado e pessimista! Aproveita que entrou um novo signo aí e dê um banho astral nisso rsrs.

Abraços.

EXPEDITO GONÇALVES DIAS disse...

Athila, um outro huno que ligou o vento e enfrentou o tempo de peito aberto, pretendo ser um flagelo, mas sabedor de que será vencido por ele, um dia. Dará trabalho. Rolarão muitas cabeças...
Mas assim é a existência, preparar-se para o inevitável, e em pleno desafio, pendura-se sobre abismos, enfrentando a fera. procurar respostas esperando que elas venham, mesmo que o tempo as enterre e o silêncio seja inevitável.
Grande abraço!

Déia disse...

Que o vento traga boas novas...boas respostas e novas energias..

bj

Michele Pupo disse...

Áthila, querido, tem um selo para vc lá no meu blog.

Bjo

Ira Buscacio disse...

Meu lindão, ando por aí, sem lenço e documento, mas nos cinquentinhas.
Saudade dôce on, sempre ocupado.
Valeu o atrasadíssimo msm, eu gostei.
Bjsssssssss

Zélia Guardiano disse...

Lindo, lindo, lindo, Áthila!
O vento, que o tempo se encarrega de transformar em vendaval, ou em mansa brisa...
Adorei!
Abraço.

Valdeir Almeida disse...

Olá, Athila!

Seu texto me faz viajar.

Abração e ótimo final de semana.

Hugo de Oliveira disse...

Voltei pra te desejar um ótimo final de semana.

abraços

Pérola Anjos disse...

Pensamentos que fluem e que o vento sopra, pensamentos soltos aos quatro ventos, espalhados em todos os que sentem as palavras inquietas dentro de ti.

Grande!

Beijos!

Rafael Sperling disse...

Muito bom o texto, Athila!
Abraço