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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Placebo Crítico

Era tarde quando os pais daquela família simples chegavam em casa, cansados do trabalho, porém sedentos de vida. Ao anoitecer a menina mais nova acabava de sair de seu quarto, pois nele guardava um segredo, segredo de menina nova. Ela ouvia o barulho do ranger de cama no quarto vizinho- e ela ,pela maior curiosidade tentadora, foi até o fim, atravessando o corredor escuro da casa. Os irmãos da criança sim, sabiam da situação e que a cama só andava a noite porque duas pessoas se amavam. Vá deitar, já está tarde, é o que dizia a irmã mais velha e ajuizada antes de fazer o bochecho noturno e ir dormir – ela, a irmã mais velha, tinha acabado de praticar sexo oral, e como a criança era sua irmã mais nova, ela – a mais velha- impedia-a de ver a cavalgada humana pela fechadura. Dessa forma salvava a inocência da caçula além de alertar sua superioridade com beliscões e solavancos, Isso são horas de criança ficar acordada? Já pra cama! Ela, a mais velha, caminhava calmamente até o banheiro para um bochecho noturno, a limpeza dentária simbiótica da jovem despudorada, o flúor como dedetizador semiótico.
O namorado da garota bem sabia que estava metido em encrenca, seguia receosa a idéia de pular pela janela e enfrentar os espinhos das roseiras da avó materna da família, que alias protegia seu quintal por meio de fios; dizia a velha que os fios afugentavam os ladrões – na verdade era a própria natureza viva que puxava os fios e o Sol se dava conta de abrir o caminho para as folhas, especialmente as amarelas. Muitos pássaros foram contemplados com casas de feno durante a criação daquele quintal, muitas aves também com tocas de aço e estas com seus ovos já nascendo com o estigma de ferro: mais duros e poderosos, daqueles ovos vermelhos mais caros de armazéns mesmo, poucos centavos que a velha adicionaria no caixa, porém boas economias.
As lagartas aprendiam a tecer a seda entre as folhas de plástico que mimetizavam o cenário fantástico no qual o garoto se encontrava- tendo em vista que, de primeira impressão, estava totalmente desnortado-, colocando no contexto as formigas lava-pés que o tinham visto como invasor – este feito foi clássico, dizia que a avó da garota se dava bem com balas e sabia dominar os bichos sem levar a famosa ferroada, daí o mundo não seria feito sem a velha sabedoria anciã, a sabedoria dos chás e vinagres, até mesmo da acetona, como parlendas, Tome isso que serás curado, e não discuta, apenas sirva-se do ungüento.
Uma vez essa senhora fez uma receita mística: primeiro tomou seu gole de café e deixou o restante pra os mortos – uma pequena borra circular ficou gravada no copo e validando o infinito de seu poder para com estes insetos, ela resolveu por em prática sua simpatia. Depois de mascar um chiclete – para tirar a carne do dente - até que o açúcar se acabe, ela fez uma bolinha do chiclete insípido e branco com suas mãos microbióticas e colocou sobre a borra de café com o fundo circular. Na segunda parte da simpatia ao invés de uma mera frustração, ela se masturbou, lembrando sempre de seu finado esposo canalha, de modo que o líquido ainda que por menor nutracência possuísse, ainda podia ser classificado como energia da alma- colheu todo o líquido em um algodão, novamente fez uma bola com as mão repletas de bichos microscópicos (micróbios) e colocou sobre a borra de café com fundo redondo; antes tinha uma última prova mística a ser cumprida. Ela tinha recolhido o sêmen de um adolescente jovem – este mesmo do texto, o garoto -, dentro de uma camisinha; dizia –se dele infértil, segundo a família do garoto, que era religiosa. E como a dona senhora trabalhava em uma clínica de fertilização in vitro e, pelo mais secreto detalhe, queria ter netos, foi tarefa fácil convencê-lo a uma bronha.
Mas para essa etapa do feitiço, foi diferente. A senhora desatou os nós da camisinha e passou nas mãos, feito creme, de modo que algumas petéqueas apareceriam durante os últimos três minutos de ensaboamento espérmico. A dona pegou o papel higiênico e limpou, esfregando o papel nas mãos rubras ate que a psoríase cessasse. Então ela imaginou que os espermatozóides mais resistentes aderiram ao seu tecido epitelial frouxo. E como a senhora limpou as mãos com um papel higiênico, a terceira parte da simpatia estava pronta. Fez uma bola, limpou as mãos e colocou sobre o copo com a borra de café redonda de modo que a tríade açucarada estava formada.
Durante alguns meses ela colocava o copo tríade em locais onde as fotos de família se encontravam e analisava os insetos: As formigas se encontravam com o objeto vítreo e resolviam subir para analisar o conteúdo com aroma de cafeína. E por obra do destino, percorriam as bolas (algodão, chiclete e papel higiênico, passando a informação às demais, por meio de suas antenas). Curioso era que elas não saíam daquele mausoléu doce, não sabiam que aquela passagem não teria volta. A experimentação tripla de objetos neutros. Por isso mesmo não afugento, nem matou as que escapavam a favor do vento. Estas formigas abdicavam o formigueiro numa busca incessante por uma nova tríade vítrea ou uma verdade absoluta, ou mesmo se tornaram viciadas em cafeína – mas, um labirinto estava formando, pois a informação jamais era passada para as outras formigas, e assim elas, minuciosas, amadureciam naquele jardim de informações. As lagartas famintas, muitas vezes sendo vítimas destes animais quitinosos e ágeis - diga- se de passagem, as formigas que informavam tríade -, eram hipnotizadas pelo mapa solar daquele jardim, por pura trama verde das folhas de plástico da senhora. As aranhas então, na cadeia alimentar, eram as costureiras, acostumadas ao trabalhar com costura e pontos nobres de entrelaçamento, pois recolhiam como reféns as formigas e as lagartas, de modo que as lagartas, não conhecedoras da tríade, deixando bem claro que uma lagarta somente reconheceria a cafeicultura se antes se alimentassem de formigas iniciadas, ao contrário disso, morriam devoradas por aranhas; e se tudo desse certo na vida destas lagartas, a tríade de insetos se formava para um bem maior, capaz de adquirir uma pterigose - pares de asas para aqueles que discordam da terra e preferem o voo.
As lagartas conhecedoras da tríade viravam belas mariposas, as aranhas ajudaram com o seu tecido, tramando a feiúra com multiolhares. As aranhas sabiam classificar bem os animais que iriam ou não alar naquele jardim em busca de outros campos menos polivinílicos e mais naturais; pois segundo suas oito patas, a sumidade de andar sobre as águas provêm das azas que ela não possui, por isso mesmo a aracnídea equilibra-se sobre a água por simples e físico peso e distribuição corporal, dotada de extrema inteligência e conhecimento secular; e mesmo assim, elas como nobres tecelãs sabiam dar azas aos animais corretos para o intento de correio de boas vindas.
E assim a mensagem ia se passando, aprovada pelos seres sábios, da forma que uma formiga descobria a tríade e uma lagarta comia o verde e uma aranha vestia, desta forma, secretamente as mariposas brancas nasciam.
Pelo menos naquele jardim pisado pelo garoto virgem, as mariposas eram brancas. Não que existissem as mariposas negras, ou que as negras fossem más. A verdade é que eles, os insetos do jardim, não sabiam da existência das outras, que passeavam por aquele bosque residencial. Verdade era que: uma mariposa completava a outra. As mariposas negras seguiam por jardins contrários e feridos, isso tudo pela indicação da mentora, a aranha – por isso mesmo as mariposas polinizavam rosas vermelhas, pelo fato de estar em constante busca pelo amor branco.
No outro jardim um senhor brincava de enlaçar fios de alta tensão com cores diferentes na sua roseira, por esse motivo, obtinha as mais variadas cores florís além de insetos mais amadurecidos- certa vez uma mariposa preta clandestina ficou vislumbrada pelo fio fita vermelho e resolveu arriscar-se; também no chuveiro do ancião o fio vermelho estava chamativo, ‘mas não encoste’ gritava sua consciência tríade, ‘o fio terra é para a terra e nunca a terra dos alados para o fio’- excetuando se os pássaros que possuem uma resistência elétrica nas patas, raros casos de óbitos aliás eram as notícias que se transmitiam pela frente das aves. Estas mariposas vedavam a arte do fio terra e não se machucavam, assim como as aves, como por exemplo: a ducha otimizada durava dias sem manutenção e o chuveiro do moço ancião só dava defeito quando uma mariposa - desconhecida da tríade - se aventurava. Estas mariposas lutavam contra a energia para não caírem sobre suas cabeças uma descarga elétrica.
O menino agora levantava do formigueiro e punha as mãos nos pés – esquecera seu chinelo e sabia da arte secular de dançar pé a pé para não ser picado. Antes tivesse álcool e tacasse fogo naquele quintal, ou menos uma seringa de querosene para adentrar o formigueiro dos insetos amareleceria as coisas. Enquanto isso era pensado, uma mariposa branca pousou sobre o seu nariz, e foi aí que ele percebeu que o vizinho teria tudo arquitetado para sua saída pela tangente. Velho sempre tem espingarda em casa. Pois ele não desistiu. Subiu em um pé de mexericas e avistou as plantas do lado mais verde. Nisso seu amor trocava de roupa. Ele teve medo, que o descobrissem naquela árvore, mas mesmo assim, roubou do jardim uma mexerica pocam e ficou observando a movimentação humana daquele lugar.
No primeiro gomo ele viu a senhora preparando o café, sentiu uma vontade enorme de descer e bater na porta, como se pra ele, entrar pela porta da frente fosse algo convidativo e menos perturbador- deixando bem claro que a senhora tinha um apreço enorme pela filha, o que, para ele poderia ser uma chance em 7 gomos. Deixou esse pensamento pra trás cuspiu três sementes e enfiou outro gomo goela a dentro.
Dessa vez ele viu pela janela a menina, sua amada, a pentear os cabelos loiros em frente ao espelho, moça faceira e atrevida, um vestido de sabe-se-lá-o-quê vermelho, desfilando se corpo escultural – ele voyerizava, mas mantinha a cautela de espião com medo da espingarda do velho ou da má palavra que possivelmente seria vociferada pela velha, ora vigiando a senhora – que agora estava no hall de entrada da casa regando narcisos – ora admirando a beleza da menina e ora protegendo a sua retaguarda; no meio desse transe ele deixou 3 gomos de mexericas caírem no chão.
Uma formiga perdida encontrou um dos gomos, e com uma força sansônica levantou e começou a caminhar com o gomo pelo jardim. A estratégia da formiga era a de oferecer tamanha grandeza laranjada à tríade, que agora dominava seus estímulos de formiga. O outro gomo caiu numa folha do pé de mexerica mesmo; a folha equilibrava o gomo, enquanto isso uma lagarta avistou aquela folha e resolveu comê-la, fazendo o gomo cair justamente em cima da formiga que procurava pela tríade. O assassinato da formiga messiânica fez com que todo o formigueiro se mobilizasse pra descobrir o tal assassino. No caso, a vítima, que já estava morta, nada tinha com a prisão da lagarta, a matadora, que estava acabando de ser presa. A lagarta já estava fazendo seu casulo, autoprisão fisiológica no tempo certo. O último gomo caiu sobre uma teia de aranha, e como o bicho de oito patas era esperto, não custou a envelopar sua teia ao redor do gomo, estava ela também a espera da tríade – e para ela tinha um tesouro; quem sabe se a tríade aparecesse, o gomo se libertava – a dona aranha pensava; mas ao invés disso, formigas se aproximavam cada vez mais de suas teias, e foram sendo aprisionadas, até certo ponto. Pois um turbilhão de formigas calhou na teia a procura do assassino, e a aranha, com medo, saiu e foi fazer outra teia em outro jardim, que não aquele, talvez o do velho ancião que morava ao lado.
Já era noite, na verdade madrugada, e o menino descia da árvore. Com a ajuda de uma trepadeira subiu até a janela de sua garota. Ofereceu-lhe um gomo de mexerica, no qual ela aceitou. O outro e último gomo o menino colocou na boca. Não se agüentaram e deram o beijo mais delicioso que já deram. Ambos virgens, se amando ‘e creio que para sempre’ foi o último comentário que tiveram duas mariposas em voo noturno, antes de morrerem eletrocutadas por um sistema anti inseto.
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3 comentários:

FOXX disse...

caralho, que texto imenso!
mas mto bom! parabéns!

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Phodástico Átila ... parabéns ... sucesso no projeto ...

LORD VAN KRONOS disse...

cara eu jah disse, vc é o nosso futuro paulo coelho