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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Encontro às escuras

Vlad acabava de abrir seus olhos vermelhos. A cidadela estava fria e se apresentava com seu manto noturno de uma forma notória, embalando suas crias. Vlad acendia um cigarro, inquieto, meio inconformado com o silêncio desse ecossistema urbano elétrico. Ele era um ser furioso. Sua ira era mais forte que o seu sentimento de abandono - adornado dos genes de seus antepassados. A aceleração de suas asas em modo de espera, no qual o seu desejo por novilhos de tribos remotas fossem necessários – e maior do que o escritor que preza pelas páginas de um livro era sua adoração bem quista por tais seres que o desejavam; em todo o caso, se estes ingressarem naquela noite tremula já era demasiado progresso.

Todos procuravam pela felicidade nas esquinas emporcalhadas e imploravam somente por qualquer amizade interesseira que arranjasse surpresas escandalosas entre quatro paredes. Estava cansado de tentar aprontar qualquer injeção e derramamento de sangue novo, de não contrair as doenças humanas mais populares. Vlad era imune nesse quesito - mesmo este sendo necessário para a perpetuação da raça humana - esta fagulha não mais o atormentava há séculos. Por fim, de uma distância considerável, se aproximava um vulto. Seus olhos compridos miravam cintilantes em direção ao que seria sua nova amizade ou até mesmo o personagem que agravaria sua saciedade. Cumplicidade selvagem, com folhas secas e nenhuma fagulha, um momento que soou praticamente intacto e imperfeito, feito da gotícula do orvalho uma fervura que se esvai pelo céu, aplicando a finalização combustiva dos encontros, dissipando cada passo como diesel daquela linha desportiva, aventureira e que necessitava de alerta. O que na mente do monstro – ora posto como Vlad - se passava era a língua a experimentar o corpo feito provadora que degusta a última ceia. Vlad não iria querer acender a luz que emana de sua ausente aura só pra poder mostrar às inquietudes divinas sua fúria estridente, estas que pra Vlad, meu caro leitor, são tão banais e ilegítimas, tendo em vista que dele aproveitou-se o tempo, se esta sombra se aproximasse ele não possuiria mais discernimento entre o bem o e mal no instinto de sua linhagem.

Tão ilegítimas como sangue coagulado eram suas ideias, seus valores impecáveis aflorando para o personagem que de passo em passo assinalava um encontro – retirando-lhe de completo as evidências de um crime, a nuvem negra supracitada podia ter ou não dentes afiados, um corpo fechado a um desafio e até mesmo um nome. Desembargada e destituída de medo ela se aproximava – pelo visto causaria um entorne verborrágico, talvez se aquela boca cumprimentasse decentemente seu adversário seria trágico. O crime do beijo da morte é o crime da morte em si. A morte de um não assassino, mas o homicídio registrado e mal interpretado pelos homens. Ocorreu o que não se esperava, Vlad estava cara a cara com outro de sua espécie.

Em princípio não quiseram os olhares. Vlad agia errante e procurou pela primeira inscrição à sua vista. “Precisam-se de doutores do coração” era o que aquelas pupilas vermelhas conseguiam ler no letreiro de um poste, voou inescrupulosamente pelos arredores da cidade e não encontrou abrigo, então retornou. Tinha de pensar muito antes de agir. Em meio à floresta, para os homens de boa fé que amam os pássaros e as variedades do ambiente clímax, para os leões que amam as carnes macias e para os morcegos as frutas podres. Um manguezal enfeitado com capivaras não decai sob o efeito da neve intrusa que causou tal descoberta, como se tivesse como congelar seu corpo já frio - e a falta de problema era a solução para ambos. A neve tão rara no mês de novembro era vermelha e agradável. Advinha das maças dos rostos que hora envergonhados se chocavam contra os dentes de ambos, tão inverossímil que tudo o que calhava em um manguezal fazia parte de alguma histeria. Os dois feito mosquitos sequer sugavam sangue, atormentados os bulidos, vencendo os limites de um passo já delimitado pela morte.

Ele abandonava qualquer esfriamento, em pleno tropicalismo das falácias curativas daquele programa de desintoxicação que se passava boca a boca; entre seus conselheiros, animava-se às melhoras dos amigos internos que voltavam a si dos desmaios de loucura e se retornassem ao que eram antes daquele toque iriam pastar noutros campos, literalmente.

Sem incomodar ou dar-se conta do perímetro em que se encontrava, Vlad adentrava a floresta do pensamento com um canivete na boca, uma arma carregada no bolso e o cantil que sempre despojava, ora com água, ora com teores alcoólicos, proibidos pela instituição que se apoderava de suas características, proclamadores estes, também como vinho seco, já em bolsa térmica como corpo quente. E se dele houver a sobrevida, a graça se apoderará – todo o possível ‘vinho’ dependia da noite e da presença ou falta de uma mulher carnuda e venulosa – aquelas que falavam sozinhas faziam falta, mesmo que aquele beijo vanguardista ajudasse a sair pelas cercas farpadas as detestáveis matracas.

Prostrou- se ao seu destino, e de dentro das folhagens procurava extrair a essência e o verde que atordoava sua pele. Vlad roçava e deixava sua coceira ser mais natural possível. Punha-se a experimentar o produto do outro, feito repelente, que desaparecia o ardor – ou deveria sucumbir àquela urticária – um cobaia de lábio, antes fosse esta a classificação esperada por ambos -, perpassava da bolsa à barraca recém-montada nas colinas. E até quando a noite se ajeitou para os testes finais e de forma inesperada as mulheres apareceram às pencas, pois sentiam a fragrância estranha do amor pela morte. Fizeram a festa não como um massacre, mas sim como o que era esperado pelas donzelas, um amor que transpassasse a barreira da vida. Despertaram sem nenhuma picada, em um acampamento para dois. Fazia um dia frio e nebuloso, saíram para outra aldeia antes que os jornais aparecessem e relatassem o que sobrava de uma boa notícia.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Verdades sobre o Picles

Picles emagrece; picles com molho shoyo , picles cru. Mais de um milhão de picles para os pratos dos brasileiros, feito auxílio na merenda escolar. Mistos-quentes de picles recheados com vento. Picles é fibra, por isso mesmo seu recheio é líquido e flui como rastros de lesmas. Um picles para matar a sede desértica dos homens faraônicos.

Na cidade onde só se viam os “legumistas” vendendo suas poções verdes mágicas, era notável a venda de picles, ó internacional alquimia. Entre tantas qualidades de hortaliças, o picles gritava na feira para ser devorado e adquirido a toneladas após degustação. Na lancheira dos estudantes uma maçã e suco de laranja com picles. Assim como a esfinge, os picles queriam ser decifrados. Não se sabe o porquê do divórcio com as alfaces e a preferência pela monogamia destas leguminosas - um prato só com picles é de bom tamanho. Nem mesmo os testes laboratoriais mais eficientes souberam dizer o motivo dos picles serem tão importantes, salvo o baixo número de calorias e o teor vitamínico e mineral.

O molho shoyo não foi tão eficaz quando na solidão de seus sais. O líquido negro misturava-se com as leguminosas menos badaladas, fato é que necessitava de acompanhamento e tampouco servia de aperitivo para os vegetarianos mais esquerdistas. O molho shoyo necessita somente daquilo mais importante ; necessitava de picles, mas o caso era que o picles não necessita do molho shoyo. É complicado entender que o mundo apresenta essas formas de interdependências. Eu venho com meu molho salgado e você vem com sua leguminosa balsâmica. O mundo foi feito num prato cataclísmico onde estes continham dentre todas as coisas picles frescos. Na maioria das vezes, quando não se cuidava do jardim, alguns picles morriam desidratados, por isso mesmo se diz: Se alimentem de picles e sejam felizes ao regar o jardim; no mais, lutem a favor do transito intestinal que estes lhe proporcionam. E queiram bem o vaso sanitário, pois só picles salva.

Eu não quero fazer apologia aos vegetais, mas picles são criminosos na questão das saladas mistas. Vivem juntos aos seus parceiros e não abrem mão de um vinagrete qualquer. Mesmo assim saíram da prisão com as fianças dos chefes de cozinha e o apoio do ministério da agricultura. Mais uma de suas virtudes: Os picles roubam suas gorduras e ninguém mais sabe de nada. Onde as benditas se esconderam no seu corpo, sem resposta para os ignorantes.

São como esponjas, é o que dizem, e vieram de longe feito banda de rock para tomar conta dos pratos dos naturalistas. E, em meio às notícias fantásticas, encontraram um poeira cósmica feita da mais importante semente de picles, enfim uma raridade datada pelo espaço gastronômico. Todo picles sabe dominar sozinho a demanda de uma cozinha/restaurante e fica bem na mesa de qualquer classe social. As carnes têm inveja dos picles, pois quando elas são resfriadas perdem muito de suas fibras e ficam feito manequins no refrigerador esperando na última estação serem devoradas nos pratos, enquanto estes são servidos frescos e na hora. Os repolhos invejosos são apaixonados pelas bainhas rodadas dos picles, estes porque não causam tanta flatulência quando dissecados. Todo picles procura por sua salada, mesmo no prato dos egoístas dietéticos. A salada comum acompanha tomate, alface e cebolinha, já o picles não faz parte dessa leva, ou quando se faz é abstraído e trocada por um esquizótipo, como a couve-flor.

Marilene estava seguindo ordens da patroa; esta que pedia naquela noite uma salada de picles; mas como achar importante leguminosa ainda fresca no supermercado? Era necessário tomar medidas drásticas. Ir até a casa da irmã curandeira, aquela que possuía um jardim completo de ervas e afins. O molho de picles saiu barato, em troca de erva cidreira e figo. Marilene sorriu, pegou a caneta e começou a anotar as receitas da irmã. "Eles bem picadinhos ficam ótimos como acompanhante de salada, não deixe o picles agir sozinho em uma apresentação, pois ele não tem qualidades pra ficar como protagonista”. Todo picles mal resolvido espera por um massacre estomacal, onde só os gordinhos têm a ciência de seus poderes; mas, geralmente, são estes que os abraçam nos famosos acompanhamentos.

Marilene estava prestes a cortar os talos quando foi interrompida pela patroa; ela queria que colocasse os tomates maduros de sua horta a venda. A patroa queria aprimorar e conciliar os menus, já que suas vendas estavam declinando. Então ela pegou o picles mais parcelado e curtido, e tratou com um bom banho de vinagre. O picles relaxou e descansou, até ser beliscado no provatório e comido na mesa 23 daquele estabelecimento. Gerou uma conta de 56 reais, e foi servido como acompanhamento para o hambúrguer. Os picles foram devorados com fritas e valiam aproximadamente 3 reais a porção. Vida longa ao picles no prato dos naturalistas!Vida longa!

domingo, 6 de novembro de 2011

Hora do recreio

Filho,há quanto tempo está a olhar essa senhora; Há pouco, respondeu o garoto; Não acha que devias desviar os olhares e fixar nas crianças; Não, acho que deveria procurar conversa com outro; Acho que deveria ir brincar, olha, já é recreio e a professora substituta está a arrumar a gincana; Não acho que sair dessa árvore e aprender com as estagiárias seja vantajoso nessas circunstâncias, o sol está queimando e eu prefiro estar na sombra, olhar aquela senhora naquela cadeira e nada mais; Isso seria melhor do que se comportar como um patife; Exatamente, e assim me comporto feito um bobo, pois na hora da chamada quem irá responder pelas faltas sou eu e não a senhora - ralhou; Então achas mesmo que deveria se privar de ser um garoto normal e ir brincar de pique com os demais; Não deveria, mas acho que os demais não me querem no recreio e nem em suas rodas de jogos, receio que será assim para sempre, até o fim do semestre; Mas por que – incita a professora-; Porque nenhum deles é capaz de enxergar o mundo como eu enxergo, vê, alguns deles jogando queimado e sendo felizes, mas sabem que na hora da merenda o arroz está em falta, por isso poupo minha virtude e não caçôo de nenhum aluno; Mas existem tantas meninas que deveriam ser aproveitadas pela sua nobre beleza e a merenda está a melhorar a cada dia; Meninas estas que só apontam os dedos esmaltados para os meninos esbeltos e, me desculpe professora, nunca fui e nunca serei esbelto da maneira como elas pintam, algumas já até adultas possuem esse erro demarcado e intransferível, e não quero discutir leis darwinistas enquanto a senhora usa de toda a sua psicologia pra me tirar dessa árvore, apenas deixe meu corpinho quieto enquanto os 30 minutos de tolerância acabam; Dizem que você é um dos piores alunos; E sou, porque não me ensinam a viver nesta instituição,como deveriam; Então aprenda nos livros; É o que estou fazendo, mas os livros apresentam carência e eu fomento esta carência nessa árvore que nem os frutos pode me proporcionar, somente a sua sombra. E é o que sou. Uma sombra para o retrato da turma de final de período, e não espero mais do que o abraço de meus pais e as felicitações de fim de ano, esses meninos lindos que passam a jogar bola serão os mais felizes enquanto eu me declino e talvez passe a ficar em casa por muito mais tempo que o aconselhável. Mas me disseram que és um bom matemático e que irá se safar das provas finais; Sou um bom estatístico e sei das minhas faltas, também sei de minhas qualidades e que destas , durante o recreio, não se manifestam; Mas é atípico da sua parte ser tão solitário, vejo que eras um bom companheiro e que tinhas companhia durante todo o período; Não sou solitário, apenas aceitei minha situação tal qual deus designou para mim, e meus companheiros se dissiparam, procurando por suas batalhas, todos líderes aliás; Então tens qualidades de liderança; Não sei, só sei que quando vejo os garotos enfileirados para me empurrarem no término do folguedo e quando me impedem a pronunciar meus pensamentos, sei de tudo, mas prefiro por enquanto guardar meus segredos enquanto eles se divertem e eu preso nesse sistema educacional não posso me alforriar das amarras documentais e vigilantes desta instituição; Então és um pequeno artista, esperando a fase infanto-juvenil ser dissipada; Não, sou como este casulo no cume da árvore, consegue ver; Sim , perfeitamente... Então o que espera é o desligamento de suas origens; Espero o desabrochar de uma nova consciência em que todos me tratem como igual; Mas você mesmo se difere dos outros; Ouça, eu sou diferente e já tenho essa noção, desde sempre, mas não é um sistema como esse que irá me adaptar , minhas acomodações são mais primitivas; Ninguém é igual a ninguém e se são primitivas por que espera muito em troca destes fedelhos; – argumentou a professora em busca de um apoio - Porque eu ainda acredito no mundo e na mudança das estações, e enquanto ele gira, dessa árvore sem frutos me acalento, e aquela senhora solitária busca o mesmo que eu, por isso me identifico com ela, que da mesma forma teve os anos corrompidos pelo tempo e as amizades conchavadas; Mas você quer ser como ela ou acreditaria que somente no nascimento de um novo sentimento ressurgiria a tão sonhada paz interior; Quero ser como ela, mas só que diferente, quero desabrochar do cume dessa árvore infrutífera e vociferar ao estado o tamanho do meu desânimo, pois eu sei que existem outros tal como eu, como aquele menino ali por exemplo, na soleira, esperando a mãe depois de levar uma surra dos coleguinhas, ele é um de mim que por hoje não conseguiu a liberdade de escolha mas sim a segurança paterna, ele estará com os pais ou a empregada bem antes do sinal tocar, o que é um alívio; E você assistiu a tudo de camarote, por que não ajudou seu amigo; Porque estou em desvantagem e é sobre isso o que eu estou tentando lhe explicar, estamos agindo sozinhos, enquanto o mundo não parar para refletir o degrau em que estamos, e eu continuo naquele cume daquela árvore professora, esperando os segundos passarem lamentavelmente; BANG! Já está na hora de voltar para a sala; Primeiro a senhora; Vou entrar junto com você, pois acredito na sua mudança, mas só quando sua nota melhorar; Ah, isso só quando o tempo me bastar e essa tempestade passar.

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sábado, 29 de outubro de 2011

O último parágrafo

Havia uma estrada no deserto, e nela foi posta a decisão de ser seguida à risca sem interrupção. Necessariamente para tudo existe uma estrada. Se esta está bloqueada ou em obras é fatídico dizer que só o tempo teria posse dos tijolos para uma reforma construtiva. Se esta estagnou ou uma grande cratera se abriu é porque de dentro dela não se pode atirar, declinar ou tapar buracos. Aprofundar cada vez mais para o centro da terra é ir direto a caixa de pandora ou até mesmo ao eterno caixão. É temeroso, é incerto, e esta falta de obrigação e curiosidade lhe implica um erro: a culpa.

Seus tiques se tornam cada vez mais tortuosos e sua chamada já não é contínua, você defasou, você contribuiu para a morte de centenas de pessoas quando atirou a palavra nula ao vento, você silenciou estes versos que agora são um presságio.

Dito isto e implicitamente ofendido eu fico a mercê da inquietude de sua alma não levantada ou primariamente sucumbida ao inferno. Não que o inferno seja aqui nesta terra – e se realmente é, graças a Deus, iremos passar por isto junto, ao relento–. O presente de cada dia está lacrado e corrompido pelo desejo de ser ‘o dia final’ fatal para a raça humana. Sabiamente você desgastou esta pedra mimosa, mas não a moldou como deveria. Você apenas arranhou mais um disco que está em extinção. Palmas pra você que agora está mudando o mundo; palmas pra platéia que agora está em silêncio escutando somente a sua voz enfraquecida e com baixa frequencia.

LEVANTE, seu energúmeno. É isto o que a platéia mais espera de você: o seu ato mais louco, o seu melhor rabisco ou pelo menos a caligrafia redonda sem erros de concordância.

Seriamos escolhidos para um novo tempo se este ajudasse a trabalhar os defeitos da alma e da ignorância. Inquietude e solidão andam juntas e o amor jamais é conquistado sem as pedras pelo caminho, que é deserto. E você pra isto tudo? Nada, nem um oásis sináptico. E eu que só descrevo e prefiro ficar na estatística, mais um texto pra ficar datado in loco. Deixe sua estatística e sua matemática financeira de lado, vamos gastar o verbo e alimentar esse mundo suburbano podre. Temos litros de lama para serem arremessados nas varandas dos intelectos, temos a placa mãe e até ela ser reconfigurada tem-se a conexão das classes de amigos e as amizades cibernéticas.

Mesmo que desta vez seja eu a parte embaraçada não é engraçado e nem um pouco hilária essa fase ociosa e melancólica. Nunca fui engraçado, nunca pedi licença pra entrar nesta sociedade poética e nunca dei baixa em nossos produtos supremos. Não sou caixa, mas fecho as contas e percebo que desta maneira tudo o que indica é o final de uma dívida interna, interiorana e egoísta suprimida por nossas ganâncias.

Como somos fracos, como nos ajuntamos em grupos pra sermos uma unidade, e isto se aplica diretamente feito vacina para todo o mundo.

Mesmo que eu, neste momento, deitasse, fechasse os olhos e fosse dormir; dormir é ficar parado e isto emplacaria do ócio ao osso. O osso que foi construído no feto foi feito para o músculo, o trabalho de inventar um movimento ginástico e ser aplaudido pelo acorde perfeito foi feito para o técnico. Digo mais uma vez que não quero ser julgado, nem defendido, muito menos quero algum comentário calunioso sobre meu pensamento.

Só sei que não se faz o pão sem a farinha e o fermento, só sei que aprendi a escrever na escola; e a ralhar mesmo aprendi com a vida que sempre será justa para poucos aventureiros – aqueles que chegaram até o escuro e conseguiram ligar o interruptor do medo. O medo está sob vigia, guardando sua prosperidade. Você com medo não é nada, não vale nada, nem mesmo este texto valeria de algo se nele há o medo.

Chegue mais perto da escuridão, desça as escadas sem corrimão, toque a caveira interna e lute contra as pragas de Deus, não tenha medo, não, nada está em julgamento sem um advogado de estado de espírito elevado. Sinta o prazer de ser a chacota da semana e preste atenção nas imundícies das carnes alheias. Só não rejeite estar neste inferno, pois ele será sua passagem para o êxtase, quando na felicidade eterna uma alma se apodera de glória, ou duas almas se encontram em perfeita sinergia. Estas sim são aclamadas com o anel do esforço em grupo.

Banalize o que é verdadeiro e tente tirar algum proveito de sua miséria, se encharque de suores e trabalhe para o trabalho com a força de um nobre operário. Não se opera milagre com os velhos tempos. O passado foi passado prá trás. O novo agora é sublime e difícil de ser explicado. O choque entre os planetas de seus xacras e o turbilhão de informações não regulamentadas são preciosos, mais preciosos e privados, mesmo sendo criados pelo lixo eletrônico, não deixem que as palavras sejam marcadas e retiradas pelos mais potentes antiquários. Estes lutam pela etiqueta enquanto os vícios se apoderam do orgulho normativo de suas letras.

No mais, este é somente o último parágrafo.

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sábado, 15 de outubro de 2011

Risco Sanitário

Por favor, insira o número de série na tarjeta e espere por dois minutos. Aguarde mais um tempo e se for necessário pegue o seu café. O momento de hoje é pra ser vivido em uma sequencia valiosa, ininterrupta. Não odeie a chuva, pois não temos lona, nem declare seu amor pelo céu nublado, pois você vai passar pelo escuro e acredito que verá a luz. Não se esqueça de guardar o número de protocolo que vai sair após o bipe – BIPE!-. Se não ouviu o bipe, pegue uma nova senha e aguarde na fileira de cadeiras perto da porta azul. Sente-se numa carteira vermelha. Se você pegar no lápis, escreva um testamento, pois o lápis foi feito para. Se estiver indeciso quanto a carteira fique de pé e espere o chamado; mas assim você não será convocado de forma rápida, você precisaria de um intercessor, por isso não olhe para as estátuas, elas roubam sua vitalidade. Vênus de Milo está com os braços dormentes e está se sentindo mal, por isso mesmo foi amputada.
Em caso de dúvidas vá ao guichê de informações e pergunte somente o necessário para não ouvir berros ou bobagens. Cuidado, não sente na sala de seringas; é perigoso; elas ainda não estão estéreis. Se você quiser, poderá esterelizá-las com seu grito, mas se você gritar um tom abaixo do determinado a caveira do escritório anatômico vai perder mais um osso e ruir. E olha que ela já está deficiente. Muitos de vocês pacientes já fizeram serviços errôneos, e é por tal motivo o número intenso de indigentes no necrotério. Se você por algum acaso encostou o ombro na parede vermelha faça o exame de sangue com urgência. Muito provável você será classificado como POSITIVO ou INFECTÁVEL. Se isso ocorreu, um novo vírus se espalhará pelo seu corpo em frações indeterminadas de segundo, pois o vírus é novo e as pesquisas ainda não foram feitas acerca de sua contaminação.
Aquiete-se, não tussa e não espirre na frente das bonecas, as crianças agradecem a preferência.
A porta deste estabelecimento está fechada e todos os que estão dentro provavelmente se contaminaram. Por efeito colateral você tem fome. Você vai pedir um quibe na lanchonete, justamente porque é o único salgado do lugar.
Das vantagens adquiridas é que você poderá percorrer por todas as alas, sem restrições e imunidades; aqui não separamos por sexo ou especialidades; podemos ver o parto de gêmeos, a operação de fimose após o parto e até mesmo a imundice amarelo-esverdeada do primeiro cocô. Você está para ficar doente, aceite. É como um tour ou um estágio, quem sabe você vira doutor em geriatria ou um ilustre psiquiatra.
Você poderá encontrar da criança ao velho e comunicar com eles, mas tente fazer isso de boca fechada, você já sabe libras? Se não sabe existe um local para. É mais ou menos como um corredor onde os mímicos dão gargalhadas pelas mãos, talvez você aprenda alguma piada e arranje uma namorada, talvez você seja uma piada e vague sozinho pelos corredores vazios. Os quartos estão lotados e são salas limpas. E se você apresentar liderança poderá moldar a sua forma este local no qual existe de forma descritiva e padronizada: Três camas por quarto, sendo um beliche e uma cama de solteiro. A cama de solteiro geralmente fica para o vice-líder e a beliche de cima para o dono do quarto. Você provavelmente não possui boa oratória, pois para isso existem cursos e a aptidão, que você não possui. Ainda não sabemos o seu talento ou não o escolhemos ainda. Então, por critério darwinista, você ficará no beliche de baixo. Cuidado! Se seu líder for muito gordo ele pode cair em cima de você enquanto você está dormindo. 5% das mortes desse lugar aconteceram dessa forma, pois não existe nenhum mecânico para apertar os parafusos dos beliches. A comida é boa e palatável ao menos; foi escolhida pelos melhores nutricionistas. E o setor de comidas está abarrotado de refeições. Diga-se de passagem, estas refeições estão sendo analisadas por uma indústria farmacêutica a fim de controlar o risco dos infectados, de forma a amenizar a causa do contágio por alimentos. Tudo isso é feito por um estudo duplo cego, em que nenhum paciente sabe se está ou não sendo medicado. E posso dizer que o efeito Placebo realmente acontece, em uma proporção de 4:1, pra ser mais preciso. Muitas das vezes se topava com pacientes acamados e bem alimentados.
Passando até o último corredor, a saída de emergência é uma porta negra. De dentro dela, ninguém podia ser visto, pois um montante se colocava em fileira.
De dentro da saída os médicos que sangravam pelos olhos aplaudiam os enfermeiros que amarravam na cama uma pobre senhora, vítima da peste negra. Este quarto escuro tinha como símbolo uma caveira. Não era difícil fazer a ligação entre a caveira e a morte. Pois os médicos já estavam em um estágio de atestado para a morte, enclausurados naquele quarto de escape onde se lia em aviso vermelho “Não entre se quiser descobrir o que a verdade lhe espera”. Ao lado dos dizeres, vários gatos miavam e ronronavam nos pacientes enfileirados. Você percebe a diferença de ambiente e se toca que aquilo é a libertação. Então você entra na fila.
Espera por horas, e percebe uma gritaria contínua dentro da sala. Um desespero que agonizava e era mesmo a melhor de todas as melancolias. A melancolia da morte. Sem a senha, desta vez você entra, porque pra morrer não é preciso de senha. Os médicos vaticinam o seu destino com a dose mínima de veneno. Enfermeiros te amarram numa cama. Você grita. E em poucos minutos tudo para. É sua Morte.
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sábado, 8 de outubro de 2011

A Fome

Bom, essa música é antiga, mas resolvi postar hoje. Espero que gostem!

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A Fome


A fome que mata a fome
Aquilo que a gente come
E basta, engasga o corpo

A fome que embala o berço
A fome que move o terço
E afasta o mal do homem

A fome primata
A fome que causa dor
A fome ingrata
A fome de bem senhor

A fome de apetite
Até que o estômago apite
E acabe o cigarro, o maço

A fome prima da morte
Que quando nos falta sorte
Você como alimento

A fome é parceira
Da casta gente de grana
A fome é primeira
Na casca subsaariana

A fome de sentimento
Do livre conhecimento
Por onde atravessa a ponte

A fome dor humanóide
Que vez se vê no tablóide
Causando temor aos montes

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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Geração baba de animais

O cão passeando com a dona. O cão procura lugares para demarcar espaço com seus líquidos e sólidos fisiológicos, o cão pensa como cão e por isso fenece ao lado da dona que como dona floresce em pensamento:

'Estamos no caminho, inteiros, acorrentados, bufando para o dono do crédito soltar o cordão umbilical que nos une a um só pedestre de calçada estreita, enquanto eu troco de braço sua coleira, você parece não se importar com minha comodidade, mesmo sendo meu melhor amigo. Por isso mesmo nos esbarramos e dividimos nossas sarnas. Do ponto de taxi à rodoviária, nunca se sabe o que o motorista andou tomando na noite anterior, e só se sabe do cão interno que vive dentro de seu táxi, afunilando as saias das senhoras; e da sua viajem, a do táxi - viajem que só se nota a proeza dos projetos trabalhistas de arrecadar verdinhas.

Intui que ela – a geração Y, motorizada - mostre-se importante e necessária; por isso, como exemplo, os motoristas desta classe não são assalariados por sofrerem graves acidentes, muitos destes pensam que a vida é um jogo, e procuram receber fichas como num póquer, muito mal pagos por sinal. Enquanto seguro minhas rédeas e afrouxo um pouco a corda do cachorro para dar vazão a fauna urbana paramos em frente a uma esquina.

O fato de a esquina estar esburacada não delimita minhas habilidades sincronistas de geração X , nem deixa de lado a minha característica como mulher que sufoca o peito dos assalariados todos os dias na estrada do motel estrada; ah, os bêbados... onde estão suas mulheres se não na cozinha ou até mesmo no vizinho.

Não se sabe o destino final para minha profissão – a do lar -,mas o fato de carregar um cachorro faminto pela liberdade é importante para o seu dono, meu marido. Acredito na aposentadoria das classes e no aumento da verba para as classes mais significativas, a tudo isso concluo de olho no corrimão do elevador e no ouvido aguçado da estação de rádio Ipanema.

E assim somos, por mais simbolistas de araque, somos almas gêmeas geracionais subindo níveis. Da maneira que vier na conta corrente, com saldo premiado no contracheque, liquidamos todos, e sabemos que o licor é mais caro que qualquer Wisky paraguaio. Mas mesmo miúdos e anabólicos, somos uma banda numa bomba de bumbos composta por barítonos e tenores afagados pelo desabrochar das flores vermelhas; tortuosas flores que me causam psoríase psicológica e fadiga craniana.

O cão não se aquieta ao chegar em casa, parece que vai ter um enfarto enquanto eu cheiro as pétalas vermelhas da sala sob um iminente efeito bola de neve, que não dormirei bem esta noite já se sabe ou se duvida por parte dele, culpa de meu narizinho em pé endividado com o sistema financeiro. Ouso até a retirar o cartão de crédito azul, como o nome dele, o senhor compra tudo o senhor 'Au'.

E Se uma destas flores desenhadas no encarte fossem azuis? Jamais meu cão atacaria o verde das montanhas e o gramado da sala, jamais as lavas ou pedregulhos quebrados pelo raio da sumidade seriam coladas como vasos chineses quebrados; eu retiraria das raízes da varanda os brotos, assim que ele defecasse no local. Esta habilidade é circunstancial e animalesca, assim como a arte humana e canina de cavar buracos.

Tantos são os que somos que seria impossível colocar os nomes de cada ato aqui, mesmo existindo um intermédio de organizações federais e de interrogatórios, mesmo existindo a amizade entre pedreiros e os assobios em minha direção enquanto estendo a minha roupa.

E se por vezes nos deparamos com uma psoríase craniana, não coçamos. Procuramos pentear os cabelos, numa forma de conter os óbitos diários em consequencia da linha da vida. Os piolhos fogem se não ativados.

Vejo lojas e butiques. O fato do desarmamento cosmético é assustador, mesmo para os perfumistas.

Escrever este diário é assustador. Ao menos é um alívio para a mente fazer uma nova escritura de autores mercenários ou talvez consagrados, como se estes fossem indispensáveis ao trono dos cento e vinte anos de cadeira literária.

Só o quilo do que somos já valia o rodopio das notas e dos avisos digitais sonoros; e somente o pingo e o porre seriam capazes de nos destruírem nos bares de enlatados alcoólicos que vejo nas placas, mas se o pingo pinga demasiado e o minotauro do comércio se afaga, é porque os cavalos são incapazes de quebrar um copo com seus mijos incertos que encharcam os pés inflamáveis, os indigentes secundaristas e os donos de casa estão em complô contra nós - as éguas e os publicitários.

E nem a chama mais potente do centro da terra aturdiria as fantasias deliciosas que jorram de nossas babas; e nem o pingo da nuvem principado pelos deuses estiaria nossa tempestade de letras incertas. Não somos os únicos a estatelarem os dedos pelas frontes de batalha comercial e a queimarem na porta do escritório um vestígio de cinza. Não somos os únicos a almejarem as bolsas auxílio e a quebrarem alças. Não somos os únicos necessitados, somos rainhas perdidas no tempo cercadas por alcatéias.

Não estamos no ano certo e se estamos é porque devemos o acerto do ritmo; os pássaros cantam melhores que as gralhas e nem por isso elas se deixam levar pelo uniforme negro de suas penas, assim como os gatos pretos que conquistam qualquer um, mesmo sem o guiso, é seu pelo preto que foge pelas estradas.

Estamos no século errado e há controvérsias de que estamos vivos. Mesmo de olho nos hospitais e clínicas, a área médica nunca será a mesma e saúde de hoje se conserva na lata e no giro das ampulhetas. Isso sim, uma guinada, formataria a longevidade de nossas células tronco como milagre.

Da marca só tenho mesmo meu sobrenome “Ellois”. A geração Z pensa que está no comando, e nem somos tão belos quanto seus colírios, e nem queremos ser. Parece que a guerra começa pela beleza exterior e que precisamos massacrar e dominar as frentes de nossa ânsia majoritária de engrandecer e atingir a maioridade.

Agindo feito creme escamoso recolho a merda do meu cachorro - ou feito óleo lubrificante arredado - usando sacolas não biodegradáveis e propondo um rejeição a reciclagem. E se o cão usa de orifícios para a comunicação demarcada, eu sou a tapa buracos, que, juntando a prole coliforme fecal com o meu sangue aproximo-me ao sentimento dos animais enjaulados.

Enquanto isso o vento coagula nossas montanhas e espalha nossos erros. E é com o vento que necessitamos do fluxo congruente das diversas fronteiras. Com ele, o latido do cachorro se espalha, passando do ponto principal do apartamento à galeria de uivos atacados por lobos domésticos. Sejamos então atacados por rações e indústrias veterinárias. Nossa tribo é uma só e nossa tropa nunca será vencida. De acordo com nossos pais, somos os pais do nosso país. E somos. E somamos. E sabemos do extrato e das dívidas. E dividimos nossas dúvidas em partes iguais que necessitam de guichê de informações mundanas, de modo que a ruptura de acordos causaria a quebra de valores morais. A ruptura de um casamento destruiria a fidelidade canina. Dos valores de família aos valores da carne, da ração do cachorro ao esterco; da galinha ao urubu; estamos tentando fazer as pazes; Fugimos do terreiro feito galinhas d’angolas e vamos até a igreja para morder uma pata de esperança das unhas do clero, assustando pombos.

Maquineístas, prendemos os pássaros e jamais acertaremos os ponteiros do tempo. Mesmo que a união das aves esteja em calmaria; mesmo na estabilidade das cores e no entendimento das mesclas que piam; mesmo que o furo seja rompido com alfinetes cirúrgicos e os pontos refeitos a dente e a nós. Mesmo com o molde da dentadura mordicamos o chiclete que limpa nossa arcada dentária e não o jogamos no lixo; engolimos o esperma da sociedade e das novelas e impedimos a derrota de um sistema em crise global. Erradicamos a fome de conhecimento sem a qual os livros não existiriam em papéis, e damos esmola aos mendigos, na verdade, doamos nosso dinheiro de outras épocas: os cruzados.

Empregamos o verbo e procuramos empregos, alguns mais rentáveis, outros só para adquirirem o sossego das aulas temáticas. Já outros projetam a inteligência dos reinos em xadrezes há longas décadas, e muitos outros esperam a reposta para o engarrafamento dos gases nos refrigerantes estimulados por moléculas que nos tornam dependentes da marca que cola.

Se todos somos irmãos, a briga é séria, mas nem por isso necessitamos de armas biológicas. Basta um afago, um afeto e uma atenção prévia por parte do governo e de nossa mão, de nossa mãe presidente.

As dores de cabeça cessarão quando enfim o analgésico for deixado de lado em uma vitrine, e realmente ser entendida a nossa doença, o mal social.

Os exames sim, serão preciosos, sempre, pois eles nos colocará em parâmetros. O exame nos guiará como enxames de abelhas, e deles virão o mel e a melhoria. E a respeito das misérias de cada um, proponho um debate: Que as propostas e os controles e as coleiras e as gaiolas e as prisões e as desavenças sejam banidas. E que as promessas e os projetos e os parceiros e as porteiras sejam abertas e escancaradas no momento certo. Enfim, quando o mundo estiver preparado para a guerra silenciosa do amor ao próximo, amaremos.

Neste momento estou indo comprar ossos sintéticos em um disk pet shop, senão o bicho vai aguar.


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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Placebo Crítico

Era tarde quando os pais daquela família simples chegavam em casa, cansados do trabalho, porém sedentos de vida. Ao anoitecer a menina mais nova acabava de sair de seu quarto, pois nele guardava um segredo, segredo de menina nova. Ela ouvia o barulho do ranger de cama no quarto vizinho- e ela ,pela maior curiosidade tentadora, foi até o fim, atravessando o corredor escuro da casa. Os irmãos da criança sim, sabiam da situação e que a cama só andava a noite porque duas pessoas se amavam. Vá deitar, já está tarde, é o que dizia a irmã mais velha e ajuizada antes de fazer o bochecho noturno e ir dormir – ela, a irmã mais velha, tinha acabado de praticar sexo oral, e como a criança era sua irmã mais nova, ela – a mais velha- impedia-a de ver a cavalgada humana pela fechadura. Dessa forma salvava a inocência da caçula além de alertar sua superioridade com beliscões e solavancos, Isso são horas de criança ficar acordada? Já pra cama! Ela, a mais velha, caminhava calmamente até o banheiro para um bochecho noturno, a limpeza dentária simbiótica da jovem despudorada, o flúor como dedetizador semiótico.
O namorado da garota bem sabia que estava metido em encrenca, seguia receosa a idéia de pular pela janela e enfrentar os espinhos das roseiras da avó materna da família, que alias protegia seu quintal por meio de fios; dizia a velha que os fios afugentavam os ladrões – na verdade era a própria natureza viva que puxava os fios e o Sol se dava conta de abrir o caminho para as folhas, especialmente as amarelas. Muitos pássaros foram contemplados com casas de feno durante a criação daquele quintal, muitas aves também com tocas de aço e estas com seus ovos já nascendo com o estigma de ferro: mais duros e poderosos, daqueles ovos vermelhos mais caros de armazéns mesmo, poucos centavos que a velha adicionaria no caixa, porém boas economias.
As lagartas aprendiam a tecer a seda entre as folhas de plástico que mimetizavam o cenário fantástico no qual o garoto se encontrava- tendo em vista que, de primeira impressão, estava totalmente desnortado-, colocando no contexto as formigas lava-pés que o tinham visto como invasor – este feito foi clássico, dizia que a avó da garota se dava bem com balas e sabia dominar os bichos sem levar a famosa ferroada, daí o mundo não seria feito sem a velha sabedoria anciã, a sabedoria dos chás e vinagres, até mesmo da acetona, como parlendas, Tome isso que serás curado, e não discuta, apenas sirva-se do ungüento.
Uma vez essa senhora fez uma receita mística: primeiro tomou seu gole de café e deixou o restante pra os mortos – uma pequena borra circular ficou gravada no copo e validando o infinito de seu poder para com estes insetos, ela resolveu por em prática sua simpatia. Depois de mascar um chiclete – para tirar a carne do dente - até que o açúcar se acabe, ela fez uma bolinha do chiclete insípido e branco com suas mãos microbióticas e colocou sobre a borra de café com o fundo circular. Na segunda parte da simpatia ao invés de uma mera frustração, ela se masturbou, lembrando sempre de seu finado esposo canalha, de modo que o líquido ainda que por menor nutracência possuísse, ainda podia ser classificado como energia da alma- colheu todo o líquido em um algodão, novamente fez uma bola com as mão repletas de bichos microscópicos (micróbios) e colocou sobre a borra de café com fundo redondo; antes tinha uma última prova mística a ser cumprida. Ela tinha recolhido o sêmen de um adolescente jovem – este mesmo do texto, o garoto -, dentro de uma camisinha; dizia –se dele infértil, segundo a família do garoto, que era religiosa. E como a dona senhora trabalhava em uma clínica de fertilização in vitro e, pelo mais secreto detalhe, queria ter netos, foi tarefa fácil convencê-lo a uma bronha.
Mas para essa etapa do feitiço, foi diferente. A senhora desatou os nós da camisinha e passou nas mãos, feito creme, de modo que algumas petéqueas apareceriam durante os últimos três minutos de ensaboamento espérmico. A dona pegou o papel higiênico e limpou, esfregando o papel nas mãos rubras ate que a psoríase cessasse. Então ela imaginou que os espermatozóides mais resistentes aderiram ao seu tecido epitelial frouxo. E como a senhora limpou as mãos com um papel higiênico, a terceira parte da simpatia estava pronta. Fez uma bola, limpou as mãos e colocou sobre o copo com a borra de café redonda de modo que a tríade açucarada estava formada.
Durante alguns meses ela colocava o copo tríade em locais onde as fotos de família se encontravam e analisava os insetos: As formigas se encontravam com o objeto vítreo e resolviam subir para analisar o conteúdo com aroma de cafeína. E por obra do destino, percorriam as bolas (algodão, chiclete e papel higiênico, passando a informação às demais, por meio de suas antenas). Curioso era que elas não saíam daquele mausoléu doce, não sabiam que aquela passagem não teria volta. A experimentação tripla de objetos neutros. Por isso mesmo não afugento, nem matou as que escapavam a favor do vento. Estas formigas abdicavam o formigueiro numa busca incessante por uma nova tríade vítrea ou uma verdade absoluta, ou mesmo se tornaram viciadas em cafeína – mas, um labirinto estava formando, pois a informação jamais era passada para as outras formigas, e assim elas, minuciosas, amadureciam naquele jardim de informações. As lagartas famintas, muitas vezes sendo vítimas destes animais quitinosos e ágeis - diga- se de passagem, as formigas que informavam tríade -, eram hipnotizadas pelo mapa solar daquele jardim, por pura trama verde das folhas de plástico da senhora. As aranhas então, na cadeia alimentar, eram as costureiras, acostumadas ao trabalhar com costura e pontos nobres de entrelaçamento, pois recolhiam como reféns as formigas e as lagartas, de modo que as lagartas, não conhecedoras da tríade, deixando bem claro que uma lagarta somente reconheceria a cafeicultura se antes se alimentassem de formigas iniciadas, ao contrário disso, morriam devoradas por aranhas; e se tudo desse certo na vida destas lagartas, a tríade de insetos se formava para um bem maior, capaz de adquirir uma pterigose - pares de asas para aqueles que discordam da terra e preferem o voo.
As lagartas conhecedoras da tríade viravam belas mariposas, as aranhas ajudaram com o seu tecido, tramando a feiúra com multiolhares. As aranhas sabiam classificar bem os animais que iriam ou não alar naquele jardim em busca de outros campos menos polivinílicos e mais naturais; pois segundo suas oito patas, a sumidade de andar sobre as águas provêm das azas que ela não possui, por isso mesmo a aracnídea equilibra-se sobre a água por simples e físico peso e distribuição corporal, dotada de extrema inteligência e conhecimento secular; e mesmo assim, elas como nobres tecelãs sabiam dar azas aos animais corretos para o intento de correio de boas vindas.
E assim a mensagem ia se passando, aprovada pelos seres sábios, da forma que uma formiga descobria a tríade e uma lagarta comia o verde e uma aranha vestia, desta forma, secretamente as mariposas brancas nasciam.
Pelo menos naquele jardim pisado pelo garoto virgem, as mariposas eram brancas. Não que existissem as mariposas negras, ou que as negras fossem más. A verdade é que eles, os insetos do jardim, não sabiam da existência das outras, que passeavam por aquele bosque residencial. Verdade era que: uma mariposa completava a outra. As mariposas negras seguiam por jardins contrários e feridos, isso tudo pela indicação da mentora, a aranha – por isso mesmo as mariposas polinizavam rosas vermelhas, pelo fato de estar em constante busca pelo amor branco.
No outro jardim um senhor brincava de enlaçar fios de alta tensão com cores diferentes na sua roseira, por esse motivo, obtinha as mais variadas cores florís além de insetos mais amadurecidos- certa vez uma mariposa preta clandestina ficou vislumbrada pelo fio fita vermelho e resolveu arriscar-se; também no chuveiro do ancião o fio vermelho estava chamativo, ‘mas não encoste’ gritava sua consciência tríade, ‘o fio terra é para a terra e nunca a terra dos alados para o fio’- excetuando se os pássaros que possuem uma resistência elétrica nas patas, raros casos de óbitos aliás eram as notícias que se transmitiam pela frente das aves. Estas mariposas vedavam a arte do fio terra e não se machucavam, assim como as aves, como por exemplo: a ducha otimizada durava dias sem manutenção e o chuveiro do moço ancião só dava defeito quando uma mariposa - desconhecida da tríade - se aventurava. Estas mariposas lutavam contra a energia para não caírem sobre suas cabeças uma descarga elétrica.
O menino agora levantava do formigueiro e punha as mãos nos pés – esquecera seu chinelo e sabia da arte secular de dançar pé a pé para não ser picado. Antes tivesse álcool e tacasse fogo naquele quintal, ou menos uma seringa de querosene para adentrar o formigueiro dos insetos amareleceria as coisas. Enquanto isso era pensado, uma mariposa branca pousou sobre o seu nariz, e foi aí que ele percebeu que o vizinho teria tudo arquitetado para sua saída pela tangente. Velho sempre tem espingarda em casa. Pois ele não desistiu. Subiu em um pé de mexericas e avistou as plantas do lado mais verde. Nisso seu amor trocava de roupa. Ele teve medo, que o descobrissem naquela árvore, mas mesmo assim, roubou do jardim uma mexerica pocam e ficou observando a movimentação humana daquele lugar.
No primeiro gomo ele viu a senhora preparando o café, sentiu uma vontade enorme de descer e bater na porta, como se pra ele, entrar pela porta da frente fosse algo convidativo e menos perturbador- deixando bem claro que a senhora tinha um apreço enorme pela filha, o que, para ele poderia ser uma chance em 7 gomos. Deixou esse pensamento pra trás cuspiu três sementes e enfiou outro gomo goela a dentro.
Dessa vez ele viu pela janela a menina, sua amada, a pentear os cabelos loiros em frente ao espelho, moça faceira e atrevida, um vestido de sabe-se-lá-o-quê vermelho, desfilando se corpo escultural – ele voyerizava, mas mantinha a cautela de espião com medo da espingarda do velho ou da má palavra que possivelmente seria vociferada pela velha, ora vigiando a senhora – que agora estava no hall de entrada da casa regando narcisos – ora admirando a beleza da menina e ora protegendo a sua retaguarda; no meio desse transe ele deixou 3 gomos de mexericas caírem no chão.
Uma formiga perdida encontrou um dos gomos, e com uma força sansônica levantou e começou a caminhar com o gomo pelo jardim. A estratégia da formiga era a de oferecer tamanha grandeza laranjada à tríade, que agora dominava seus estímulos de formiga. O outro gomo caiu numa folha do pé de mexerica mesmo; a folha equilibrava o gomo, enquanto isso uma lagarta avistou aquela folha e resolveu comê-la, fazendo o gomo cair justamente em cima da formiga que procurava pela tríade. O assassinato da formiga messiânica fez com que todo o formigueiro se mobilizasse pra descobrir o tal assassino. No caso, a vítima, que já estava morta, nada tinha com a prisão da lagarta, a matadora, que estava acabando de ser presa. A lagarta já estava fazendo seu casulo, autoprisão fisiológica no tempo certo. O último gomo caiu sobre uma teia de aranha, e como o bicho de oito patas era esperto, não custou a envelopar sua teia ao redor do gomo, estava ela também a espera da tríade – e para ela tinha um tesouro; quem sabe se a tríade aparecesse, o gomo se libertava – a dona aranha pensava; mas ao invés disso, formigas se aproximavam cada vez mais de suas teias, e foram sendo aprisionadas, até certo ponto. Pois um turbilhão de formigas calhou na teia a procura do assassino, e a aranha, com medo, saiu e foi fazer outra teia em outro jardim, que não aquele, talvez o do velho ancião que morava ao lado.
Já era noite, na verdade madrugada, e o menino descia da árvore. Com a ajuda de uma trepadeira subiu até a janela de sua garota. Ofereceu-lhe um gomo de mexerica, no qual ela aceitou. O outro e último gomo o menino colocou na boca. Não se agüentaram e deram o beijo mais delicioso que já deram. Ambos virgens, se amando ‘e creio que para sempre’ foi o último comentário que tiveram duas mariposas em voo noturno, antes de morrerem eletrocutadas por um sistema anti inseto.
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domingo, 4 de setembro de 2011

Causa Mortis

Às treze horas
Uma das três Marias
Paria a sorte

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domingo, 14 de agosto de 2011

Manutenção Preventiva

Digito com força
e a letra não sai mais preta
Digito com mais força
Penso em itálico
Em hebraico
Simbologicamente, claro
Também não penso
No amanhã
Se ele não chega é porque está atrasado
Lógico
Sempre odiei o tempo
Digito com mais força
Pra ver se algo muda
Uma tecla afundou
***
Chama
Preciso de fogo
Gasolina pro carro
Também preciso de
Grana
Urgentemente
Porque estou doente
Sem amor
Realmente estou doente
Eu não vivo
Sem calor
E ar condicionado
***
Não,
Quero apenas
Uma máquina de escrever
Pode ser um notebook
Um mp4
Não,
Porque estão fazendo isso comigo?
Essa cela é sem sentido
Não matei ninguém
E não sou bandido
Febem
Não,
passei da idade
Guilhotina
Ah, seria bom
A morte lenta?
Eu mereço?
desconheço qualquer juiz
Me ajuda?
***
Amarrado na cama
Impedido de sair
E necessitado
De calmante
Grito
Médicos
Na verdade enfermeiros aparecem
Não me movo
'Veia fácil'
'Boa noite.'
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domingo, 7 de agosto de 2011

Domingo

Primeiro dia
Dia de São Domingo
A Áustria adora os domingos
Assim como toda a sociedade asteca o sol
Mecenas que são
Itinerante Aquiles
Intercessor dos humanos
Faça valer a pena
Este dia medíocre
Da TV ligada
Às vídeo-cassetadas
Faça valer o pão
E a torradeira Tramontina
Surrucupiada pela vizinha
Quando enfim morávamos
No interior de minas
Cidade pequena
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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Ouro de Tolo

Eu vejo um céu iluminado pelo sol
E nuvens brancas num palito de algodão
Eu vejo como a lanchonete Vidigal
Esta fazendo o sucesso no Leblon
Eu vejo o amor e a amizade que renasce na desculpa do casal
Eu vejo a nossa mocidade aprendendo a se distanciar do mal

Eu vejo mil e uma formas de olhares
Que esperam se cruzarem dois a dois
Eu vejo o mapa que indica todos os lugares
Eu vejo o feio, o belo, o antes e o depois
Eu vejo todos os eleitos que prometem no horário eleitoral

Eu vejo a felicidade estampada na comédia nacional

O que vejo pode ser possível

O que vejo pode ser normal

O que vejo pode ser incrível

Pode ser habitual


Eu vejo o mar

E agradeço pelo vento que esfria os cabelos da mulher

Eu vejo o dia

Amanhecendo com o tempo

E a velhice só chegando pra quem quer


E quando acaba eu vejo todo o processo do início até o fim

E quando acaba eu constato que o que enxergo

Não é tudo o que vi

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terça-feira, 26 de julho de 2011

Rompante

Muitos de vocês já se imaginaram em um palco minutos antes de se apresentarem. Os que ainda não tiveram essa oportunidade que me perdoe de coração, mas esperar pela arte é como ouvir sermão de parente distante.

Cada degrau um nível, cada tombo um levante, cada revolta um rompante.

sábado, 23 de julho de 2011

Piada Batida ou o que não foi dito durante a anedota

Durante as seguintes linhas quero esboçar a arte mais crua do ser humano. A arte de tatear as emoções e tapear idéias dentro de situações corriqueiras; geralmente a arte dos infortunados que dançam aprendizes no tempo. Dramáticos e amorosos, alcançando a precariedade de uma nota. Notáveis artistas de rua, padronizados a pó por uma trama delgada.
Possuidores da independência – me parece mesmo um clã ou uma gangue, e seu sinal convidativo é o tintilar das taças seguido da quebra dos talheres interiores; sinos e mosquitos que são pelo simples fato de exagerar ao máximo sua existência.
E assim foi seguindo uma cadência, até que ele me chamava, o ator melodramático, despretensiosamente levantando sua voz diante de dezenas de pessoas. A música até soou menor, decerto se abafara àquele gesto; e o ritmo malicioso das cornetas de fora tomava conta do lugar.
Aquele ambiente remetia ao que parecia ser naquela hora: remetia a um lugar maldoso, porém convidativo. A fantasia das cenas impostas sobre as cores mornas dos lugares frios; o momento em que anunciava uma revolução consolidada num jogo de passos ríspidos. Levantava a voz sem a notoriedade sindical dos dizeres que me atingiam rápido como banho frio.
Era piada eu sabia. Enquanto admirava toda a massa escandalizada de transeuntes, olhava de canto procurando pelo interlocutor e ele sorria. Ele estava prestes a dar o bote e sem aviso alcançou minha atenção - digno de um holofote. Não, eu não achei engraçado, apenas disse que a piada era boa e pra que ele ensaiasse um pouquinho mais.
O elemento surpresa foi perdido enquanto todos os presentes na mesa aplaudiam aquela situação cômica. E sem o menor interesse ele apertou a minha mão como quem aperta a mão de um amigo - estava quente e viçosa, sentia os dedos do rapaz rechonchudos deslizando como que se apresentasse com certa classe e clareza um personagem; ‘prazer, César, seu criado’ foi o que ele disse enquanto procurava meu olhar analítico.
Sorria; intencionalmente ensaiado.
Seu sorriso despertou uma desaprovação profunda, sorria de canto esquerdo, um modo desmedido de cumprimento, a boca tremendo como que para uma boca não tremer fosse necessário um soco; e acho que todos percebiam – nem por isso deixaram de comentar o talento do rapaz que anunciava novas artimanhas, parece que seria uma chuva de palavras mastigadas que seguia os aperitivos da mesa, parece mas não era de certa forma um escândalo e sim uma incoerêcia – o meu constrangimento com o artista de botequim na verdade era de praxe porque não cedia meus minutos ao tédio do riso condenatório e sim às permutas de nossa comunidade, menino desligado que sou.
Quanto mais ele se aproximava de mim, suas palavras eram rasteiras e com teores dominantes. Podia jurar que um dia aquela bola de neve cairia sobre minha cabeça. Parecia mesmo ser necessário se fazer um show naquele dia. De modo que sobrepujar os insensíveis e toda classe de românticos era praxe para os artistas, condizente de mira incerta que me atingia. Um passo em falso e também seria capaz de aniquilar a cidade de Roma, isso se ela estivesse ali na sua frente e enfaticamente pedisse por um ‘acende fósforo’.
Fogo e água ao mesmo tempo reduziriam os riscos, mas não o teor daquela calamidade.
Cozendo e triturando deixas, era o terceiro comportamento moderno, balbuciando verdades inteiras. Enquanto navalha cortava rente deixando sua pele limpa. Enquanto piada mostrava que a morbidade não estava representada nas dores ou na comédia das almas.
Seguia na forma anfitriã de camadas mais duras e ínfimas; sua castidade alva e tenebrosa indicava os maus feitores que atrairiam possíveis problemas e se ajudasse serviria de bálsamo, antes fosse mais relaxado e não pronunciasse tanta escória. O maior de todos os problemas era o de falar bastante e não prestar atenção nos ouvintes, sequer dava ouvidos ao seu ouvido, por isso pecava e jamais confessaria algum sermão
Indignava-me e insistia a mudar sua personalidade.
As dores mais secretas que seu olhar era permitido em diagnóstico. A sua aparente vista, mas ao nível de maquiagem, encoberta entre os brindes e as comandas quitadas a sua dor mais secreta. A mulher que antes nua se deitava junto ao seu corpo e as carícias de tempos antes, explodia-lhe a mente como combustível de molotov.
Ah, o amor que antes o artista presenciava pela moça; doído por dentro de suas carnes frescas, nuas e untado a gosto. O amor de luta de faca. O amor de marteladas e de ferroadas que ia até a forca.
Deixaria esta moça de lado por um bem maior? Ou refrataria sua nobre solidão? Questionamentos em seus olhos incríveis que de mistérios arraigados entre as poças aturdiam o silêncio das pausas.
...
E o amor.
...
E o ódio e o pavor ao direito de tomar um gole.
De seu trono demarcado a faro e forma, feria a festa.
Criatura que era, abençoada com o dom de beliscar momentos à guisa da candura alheia; merecedora do tesouro cadavérico que o sustenta feito máquina, repetidamente em série única, desferindo caretas azarentas e apontando falhas independentes.
Norteava os bêbados, enfeitava a noite e nesse feito arrecadava sua platéia, menos a mim mesmo que já estava arrecadado pelo incerto.
... E a paixão.
... E agora?
INICIANTE ARTE DE FAZER SORRIR; era seu letreiro mais secreto.

domingo, 10 de julho de 2011

Nasce Os Imputáveis

Bom gente, eu e alguns escritores amigos estamos com um projeto de criar um blog com contos sujos.
Cada dia um escritor diferente, e um conto picante.


E hoje é a minha grande estréia:


Espero que gostem!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Polução noturna

O mandante de toda aquela execução estava dormindo. Em seu sonho podia ser quem quiser. Podia ser uma ave ou outro bicho. Em qualquer situação. Ordem ou circunstância. Ele começava a parlamentar idéias, repartindo-as em filetes de histórias e transpassando-as pelo decodificado sistema R.E.M.. Agora estava ele de pé, em um jardim florido de petúnias sob um sol persistente e uma brisa revigorante. A pele úmida e os cabelos ao vento; luzes se aproximavam, não era nada parecido com o que já tinha visto, mas ele reconheceu, sua mulher estava dançando de forma exótica. Uma dança jamais executada,uma mulher na cama, o problema de toda a criação em uma cena de minueto explícito. Ela dançava invertida, de maneira que seguia um compasso ao contrário, e o som de um coral de pássaros que vinha de uma fita cassete antiga acompanhava na função reversa aquela dança sedutora. Enquanto a cena se normalizava em meio aos gritos e os gemidos que a respeitável madame produzia enquanto dançava, ele imaginava ter o maior cacete do universo e nesse momento ela se sentia como uma rosa, desfolhada por beija-flores. As rosas se despedaçavam onde a vara do herói passava, e outras petúnias preenchiam o espaço de seus estandartes, como num passe de mágica ali estava outra.
Cores... Cores... Muitas cores... Ele avista um lago vermelho e azul.
O lago de garças vermelhas, todas elas com peixes azuis a boca. Ele estava em um barco na tentativa de pescar as garças vermelhas. Mas sua isca eram os peixes azuis do lago, que ele tentava pescar da boca das garças. E ele ficava nesse impedimento. Até convencer uma garça a abandonar o lago e a comer um pedaço de pão. Pra que? Os peixes se soltaram da boca das garças e todos eles se revoltaram e empurraram o barco do rapaz para a margem do lago. O lago ficou azul e o céu vermelho. Os peixes tentavam pular para a boca das garças, mas já era tarde, todas elas estavam voando. E nessa tentativa os peixes se afogaram e o lago secou. Ele assistia aos peixes se debatendo até que imaginou os peixes transformando-se em pães, e o céu antes vermelho completava-se com o azul da tarde, em perfeita harmonia, peixes e garças. Até que ele se acorda pra tomar água. Não sabia o porquê daquela mania, mas ele gostava mesmo de ingerir água pela madrugada. Resolveu não pensar em nenhum tipo de transtorno médico, apenas pegou a jarra de água da geladeira e bebeu tranquilamente, todo o líquido, até que se esgotasse da garrafa. Fechava a geladeira, desligava a luz e voltava para a cama, saciado de um lago. Deve ter sido do lago mesmo, constatou, depois de atirar uma escama de peixe da boca. De repente seu lábio secou e ele encolheu. Começou a cair pelo espaço que não dava mais no chão.
Ele estava caindo em um abismo e começou a gritar. O eco chamava por ele. Ecos para todos os lados, ecos grandes e sonoros retornando aos nossos ouvidos quando antes ecoados. Pelo eco foram atendidos seus desejos. Ele caiu no abismo. Sem destino. Aéreo. Às vezes isso acontecia quando encontrava uma folha de papel. Punha- se a folha na palma das mãos e saía correndo, de forma que por ação do vento a folha começava a rodopiar e a levantar voo, e ele viajava como um garoto, avistando todo o céu e podendo mordiscar as nuvens. Retornava ao chão como uma pluma, sem nenhum ferimento e sempre acordava feliz.
Noutras vezes sonhava que estava nu, correndo pelas ruas e sentando em bares lotados, vez ou outra tocando músicas nesses lugares, ou ouvindo músicas totalmente desconhecidas. Sonhava com querubins inventando cirandas de ceroulas; e punha-se a esquecer quando todos percebiam sua nudez e começavam a caçoar de seu sexo, causando-lhe vergonha e uma irritante sudorese ao passo de que quando acordava irritado.
Um olho pisca, enquanto o outro aponta a pestana e libera o vermelho da vista. Ele interpreta explosões nucleares, e interage com deuses nórdicos. Não há menor sentido nas palavras que pronuncia, sequer recorda que aprendera alemão ou tinha tido um orgasmo. Todo e qualquer remonte é seu e não há indícios de outras construções, já que tudo está na cabeça dele, tudo foi arquitetado enquanto ele dormia.
6:00 AM, o horário, o relógio apita.
O sonho tentava puxar mais uma história, ele tenta dormir mais cinco minutos, porém o impulso do alarme fora tão grande que impediu que ele retornasse ao sono.
Veste a roupa, escova os dentes, toma o café e sai de casa atrasado pro trabalho, com a cueca toda melada.

Aguardem,

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Violação de Privacidade

(Textos Grotescos)

O seu sorriso era mais que perfeito, entre todos os quadradinhos que se apresentavam na tela você sorria mais. E foi por isso que eu te escolhi. Foi porque você era linda e sempre estava lá, verdinha, disponível para mim.

Enquanto acariciava a tela do computador, João estava indignado com a presença cibernética de seus amigos que o fitavam pelo webcam. Um deles chegou até a enviar uma mensagem de apelo - VÊ SE OLHA PRA TRÁS – enquanto assistia a vídeos eróticos em sites adultos.

De repente João estava com uma sacola de supermercado enfiada na cabeça. Uma mão peluda a cravar-lhe o pescoço, enquanto ele esbaforia e gritava desesperadamente.

Como tentativa de sobrevivência João prendeu a respiração, tentou morder a sacola em busca de uma entrada de ar e desferiu uma série de cotoveladas errantes no intruso.

Na terceira cotovelada frente-costa, João conseguiu acertar os bagos do rapaz.

Quando João retesou, pode constatar que o maldito metediço era um conhecido seu, o amigo André.

André gritava de dor, ajoelhado no chão, enquanto João colocava-se em posição de abate.

’calma... João, eu estava só brincando’. Tentava se explicar André.

João enrijeceu o sexo e desceu as calças de André. João enfiava-lhe toda a vara até os bagos alcançarem os glúteos. E vociferava: ‘Era esse tipo de brincadeira que lhe ensinavam na creche? Da próxima vez avise quando for tentar me matar’.

André gemia de dor.

‘Você é mesmo uma mocinha’. Sussurrou João, enquanto se levantava e limpava a bosta presente em sua jeba num lençol.

‘ Sou mesmo. A propósito, sua casa está um lixo, quando é que vai arrumar essa bagunça?’

’Quando você parar de vir aqui. ’ Disse João ríspido.

‘Vai sair com Verônica hoje?’- perguntou André, enquanto averiguava se ainda tinha cú.

‘Não sei cara, não to meio preparado pra aturar a falação daquela moça, não. Cara... Diz aí: por que mulher fala tanto?’

‘Mulher fala muito porque não sabe esperar a hora certa de falar... Tem a hora certa de falar e mulher não sabe disso... ’

‘Não sei cara, esse assunto é muito complexo. Eu só sei que tem cerveja na geladeira e bagulho no armário da pia, sirva-se’. Completou João, enquanto acendia seu cigarro.

‘Sabe amigo, pra mim essa Verônica tá te fazendo de otário, abre teu olho João. ’

’Já abri o teu hoje ...– brincou João – Cara, eu só estou esperando ela ficar online... Ela é o meu sorrisinho perfeito... Meu quadradinho verde..., Cantava João o sucesso da época.

‘ Seu quadradinho uma ova. Ela é do mundo! Você tá muito apaixonado cara, mulher não gosta dessa manifestação calorosa toda, não... ’, disse André, enquanto enrolava o baseado e umedecia as pontas do papel com a língua; ‘... E outra... ela sabe que está podendo e é gostosa. Mulher assim gosta de ser desafiada, fique dois meses sem falar com ela e depois meta lhe uma surra de pica’, sentenciou.

‘É. Você tá certo cara, acende esse bagulho aí e deita aqui comigo. Vou ficar em casa hoje, ela que me procure’.

E João se deitou com André como de costume. A janela aberta e uma leve brisa de vento a tocar suas peles nuas. Janela esta violada pelo vento, pelas palavras e ações que nunca foram registradas.

Janela esta aberta para a violação.

A violação é assim mesmo; é como o suor frio de quando estamos sob um consentimento de poder descobrir o presente jurisprudente violado.

A violação é quando menos se espera e se é violado. Ser violado é ser descoberto, destrinchado, inserido em uma nova situação.

Ser violado é ser aberto.

Enquanto João e André fodiam na cama das mais variadas formas e vontades, Verônica, a verdinha de sorriso único, acabava de mandar uma mensagem privada no computador de João:

‘Oi. ’.

João não respondeu, sequer ouviu o barulho da chamada ou sentiu a vibração do aparelho. João estava ocupado.

João estava vermelho; violando um amigo.